2012/12/07

da existência metafísica



De Giordano Bruno à Física Quântica
E à demonstração da realidade de uma existência metafísica
(excerto de tradução do artigo de Franz Moser “Giordano Bruno e a Física Quântica”, 1990)


As concepções de Giordano Bruno são mais actuais do que nunca. A ciência moderna e sobretudo a física quântica confirmam as suas teorias de forma surpreendente. A concepção que Bruno tinha era de uma modernidade espantosa se a transcrevermos com a terminologia contemporânea. É evidente que isso implica abandonar totalmente a abordagem mecanicista, caduca, para se adoptar uma terminologia nova. Actualmente, o nosso problema consiste, não em comparar a concepção do mundo de Giordano Bruno com a visão mecanicista de Galileu, Newton ou mesmo Einstein, mas com as teorias de Niels Bohr, Werner, Heisenberg ou David Bohm. Comecemos pela noção de matéria em Bruno. É evidente que Bruno não dá a este termo o mesmo significado que nós. Ele fala de matéria "corpórea" e "incorpórea", referindo-se nesses termos à Energia. Esta é uma formulação que não se usava na sua época. Podemos assim admitir que Bruno considera todo o ser como uma forma de "matéria", portanto de energia, segundo o sentido que hoje damos a esta palavra.

Em seguida, Bruno refere-se às duas substâncias básicas do ser: forma e matéria. Que quer ele dizer com isto? Se nos detivermos com mais atenção na noção de "forma" em Bruno, constatamos que ela corresponde ao que hoje designaríamos pelo termo "informação". Ele distingue uma "causalidade de acção" e uma "causalidade de forma". Esta causalidade ligada à forma transmite à matéria a sua consistência, o seu modelo ou informação, como diríamos hoje. Nas ciências não há unanimidade quanto ao sentido do termo "informação". Os informáticos pensam nos "bits", os biólogos pensam no modelo e os físicos pensam numa "medida da quantidade de forma". Poder-se-ia dizer que esta quantidade de informação diferencia-se segundo os diferentes planos do ser (mineral, vegetal, animal) enriquecendo-se à medida que sobe na escala. Todo o ser que se organiza nos diferentes planos de existência, através de um conteúdo diversificado de informação, retorna à Energia. Ordem e informação estão igualmente ligados, como é possível verificar no segundo princípio da termo-dinâmica.

Encontramos, assim, em Bruno estas duas substâncias básicas do ser, energia e informação. Como chama ele o laço que as une? Bruno fala de alma ou de substância: "Matéria e forma dão a substância". Hoje dir-se-ia: "energia e informação dão a consciência". Bruno diria: todo o ser tem uma alma; e nos nossos dias: todo o ser é consciente. Existe aqui um problema de linguagem. Na nossa época, entendemos normalmente, pelo termo consciência, a consciência humana. "Ele perdeu a consciência" significa "ele desmaiou". Mas os físicos deram à noção de consciência um sentido lato e inusitado. Perguntaram a David Bohm: "Uma pedra tem consciência"? e ele respondeu: "Sim, uma pedra tem uma consciência". No entanto, não se trata de consciência humana, mas de uma consciência que responde à definição "energia e informação dão a consciência" ou, segundo a formulação de Bruno "matéria e forma dão substância ou alma". Podemos agora compreender Bruno quando fala de uma alma do mundo ou ainda quando diz que "a totalidade da substância retorna à Unidade". Isso quer dizer que todo o ser regressa à energia/informação, o que hoje também se compreende e aceita.

Ao ler a obra "Causa, Princípio e Unidade" de Giordano Bruno, à luz da teoria quântica e da "auto-organização", ficamos desorientados: pensaríamos estar a ouvir - basta mudar a terminologia -, um físico do século XX. Pode ler-se: "Segundo a visão do Nolano, é a razão que dá às coisas a sua existência: a matéria (energia) de que cada coisa se compõe - a alma (consciência), enquanto princípio formal que constitui e dá forma a todas as coisas.". Na realidade, tal como falamos de um princípio de matéria constante e eterna, torna-se absolutamente necessário considerar de igual modo um princípio de formalização do mesmo tipo. Vemos na natureza todas as formas da matéria (energia) desaparecerem e a ela voltarem. Em consequência disso, acontece que nada é imutável e eterno. Por outro lado, as formas não têm nenhuma existência fora da matéria; é ela que as engendra e é a ela que voltam. Emergem do seu seio e a ele retornam. É por isso que a matéria deve ser reconhecida como o único princípio substancial, enquanto as formas, no seu conjunto, apenas devem ser consideradas como definições diversas da matéria, que vão e vêm, que acabam e se renovam; e é por essa razão que não as podemos considerar como um princípio. Concluindo, as formas não passam de acidentes e de definições da matéria". Bruno distingue uma forma "acidental" e uma forma "substancial" da matéria. O que é que isso significa? Para o compreender, é indispensável ter em consideração dois princípios da física quântica, a saber, o paradoxo EPR e o paradoxo do gato de Schrödinger.

O que é que se deduz do paradoxo EPR? O princípio da mecânica quântica, formulado em 1935, só em 1982 encontrou a sua explicação experimental definitiva e a sua confirmação por Alain Aspect da Universidade de Paris. O resultado deste paradoxo é o conceito de não-localidade. Entende-se por localidade o carácter espacial da realidade, e por não-localidade, a não-espacialidade. Confirmou-se experimentalmente que há uma dimensão do ser na qual reina a não-localidade. Podemos dizer que existe uma dimensão do nosso ser na qual não há "espaço". Ora, se não há espaço, e por conseguinte distância, também não há tempo. Portanto, nesta dimensão, não há futuro nem passado, o que implica sincronicidade e simultaneidade. Esta dimensão é, pois, uma sincronicidade na não-localidade e, por isso, também uma a-causalidade. Poderemos imaginar o mundo assim? Esta deveria ser uma dimensão metafísica. Teremos demonstrado, quem sabe pela primeira vez na história da humanidade, de modo experimental, a realidade de uma existência metafísica? Escreve a este propósito o filósofo Wolfang Stegmüller: "Pela primeira vez na história das ciências, acontece que uma afirmação física e empiricamente verificável permite-nos estatuir sobre uma posição filosófica. Se o Realismo tem razão, a diferença de natureza existe; se a física quântica tem razão, não existe". As experiências dos físicos actuais e os métodos experimentais convergem no mesmo sentido, ou seja, que esta diferença de natureza não existe e que o Realismo está errado. Se o Realismo não conta, é o Idealismo que impera, isto é, a existência de dimensões metafísicas. Por conseguinte, vivemos ao mesmo tempo em dois mundos, uma realidade e um mundo de consciência metafísica. Eis o resultado do paradoxo EPR. Mas esta é também a posição através da qual podemos compreender melhor a concepção do mundo de Giordano Bruno.

E o que se entende pelo paradoxo dos gatos de Schrödinger? A questão está em saber como nasce a nossa realidade. A física quântica demonstra-nos que este mundo é um mundo de probabilidades. A equação de base pela qual os físicos descrevem a realidade, é a famosa função Phi de Schrödinger. É uma função de probabilidade que indica apenas a probabilidade do aparecimento das partículas de matéria, por exemplo, dos electrões, mas não a sua posição exacta. É certo que a dita "redução", ou a queda, desta função de probabilidade conduz a uma realidade concreta. A questão que se coloca prioritariamente hoje em dia é como se produz a redução da função Phi. Actualmente há duas respostas: 1- Não se sabe. É assim. É uma lei da natureza (segundo Kodennagen); 2- A redução da função Phi é o produto de uma troca de informação de uma consciência para outra (segundo V. Neumann). Se excluirmos a primeira explicação positivista que não nos satisfaz porque não nos traz nenhuma luz, só nos resta a segunda. Mas esta última é sensacional, pois, mais uma vez, confirma o Idealismo. O mundo nasce, por outras palavras, é criado pela nossa consciência, qualquer que ela seja. Será que o mundo nasce das nossas representações mentais? Qual é o grau de realidade da realidade? H. Maturana, biólogo chileno, um dos pais da teoria da auto-organização, diz: "Criamos o mundo no qual vivemos, vivendo-o". Poderíamos acrescentar: "em função das nossas próprias representações". A milenar disputa: "Qual é o grau de realidade da realidade?", ou "O que é a realidade?", parece ter chegado ao fim. Mas num sentido diferente do esperado pela maioria dos filósofos.

Voltemos a Bruno. Quando se tenta compreender os escritos de Bruno a esta luz, conclui-se com espanto que ele já possuía estes conhecimentos. Só assim podemos compreender as suas palavras obscuras. Mas como é que elas podiam deixar de ser obscuras se ultrapassavam largamente a capacidade imaginativa do homem? Vivemos num mundo multidimensional de nove, ou doze dimensões, ou ainda mais. É esse o nosso problema! Este problema é o mesmo de um cão incapaz de compreender as equações diferenciais. Estas fazem parte da realidade e, contudo, o cão vive muito bem sem elas. Não necessita delas nem as compreende. Vive na "sua realidade de cachorro" como nós num reducionismo positivista. Assim, através das descobertas da mecânica quântica, a distinção estabelecida por Bruno entre formas substanciais e acidentais é bastante compreensível. As formas substanciais são aquelas que hoje consideramos como funções de probabilidade (as funções Phi). São estados no mundo metafísico da consciência. Através da interacção de diferentes consciências nascem as formas acidentais da matéria: a nossa realidade biológica. Também podemos compreender Bruno quando diz "que a pluralidade não passa de acidente", e mais adiante: "Assim compreende-se que tudo está em tudo, mas não integralmente em cada coisa, e de maneira diferente em cada nível". Vê-se assim como todas as coisas estão no universo, e o universo em todas as coisas, nós nele, ele em nós, tudo convergindo para uma unidade perfeita. Pois esta Unidade é única, imutável e eterna. Sendo eterna, tudo o resto é orgulho, equivalente a nada. Por conseguinte, este mundo, este ser, o verdadeiro, o universal, o infinito, o incomensurável, está permanentemente presente em cada uma das suas partes".  E podemos perguntar: Como é que sabemos que a concepção do mundo de Giordano Bruno revela uma qualquer verdade, mesmo que ela coincida com os resultados da física quântica? De onde extraiu Bruno as suas ideias? Não poderemos supor que as teorias e as descobertas da mecânica quântica estarão ultrapassadas daqui a alguns séculos? Esta questão é fundamental e não é fácil responder a ela. A resposta exige uma visão global da evolução da humanidade, da evolução do homem desde os tempos pré-históricos, dos diferentes ensinamentos da Sabedoria e das suas aplicações nas religiões e filosofias do Oriente e do Ocidente. A este respeito há uma grande confusão e inúmeras contradições que ao longo de milhares de anos têm dificultado esta visão global. De onde nos vem o conhecimento da "verdade" da existência, na medida em que a podemos reconhecer? Duas ideias nos parecem importantes: 1- O conhecimento humano está submetido a um paradoxo. O homem vive num mundo (multidimensional) que não compreende perfeitamente. Contudo, ele deve incessantemente tentar compreendê-lo para sobreviver. Eis um paradoxo!; 2- O homem conhece a verdade do ser; por um lado através das ciências e por outro através dos ensinamentos da Sabedoria (Taoísmo, Hinduísmo, Budismo, Cristianismo e outros).

O conhecimento científico pode evoluir: desde os Gregos, a nossa imagem do mundo não parou de se modificar. O conhecimento científico não é constante. Além disso, existe a Philosophia Perennis, a filosofia eterna que nasce e se encontra em todas as sabedorias. Daqui se pode deduzir que o conhecimento científico tem fortes probabilidades de indicar a verdade, quando, e apenas quando, está em conformidade com os princípios da Philosophia Perennis. É o caso da mecânica quântica. Podemos supor que nos encontramos perante uma síntese entre a fé e o conhecimento. A mecânica quântica e a Philosophia Perennis estão de acordo.

E como pôde Giordano Bruno conceber as suas teorias? Como já afirmámos, ele viveu quatrocentos anos avançado para a sua época. Onde é que os sábios vão buscar os seus conhecimentos, uma vez que é surpreendente o facto de todas as doutrinas convergirem nas suas ideias fundamentais? Existem desde há milénios afirmações sobre a realidade do ser que o homem não pode aceitar porque elas não correspondem à sua capacidade de representação. Quer isto dizer que não pode deixar de ser assim? Toda a história da ciência é a da concordância entre o realismo naïf - da confiança concedida aos sentidos - e a razão.
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2012/10/30

«Privacidade»

«A maçonaria está nas bocas do mundo! É curioso observar como se lançou um tema tabu para a praça pública, quando há alguns meses atrás era impensável acusar alguém, ou haver assumpções de estar correlacionado aos pedreiros livres, reconhecendo sobretudo como a vistosa, mediática peneira maçónica, é suficiente para tapar a desonestidade, a corrupção e a ausência de ética profissional no exercício dos poderes públicos, verdadeiros flagelos do Portugal moderno. Culpabilizar toda a maçonaria pelo comportamento de alguns elementos, é redutor e injusto, uma forma de descriminação equiparável à homofobia, esquecendo que muitos são cidadãos anónimos sem nunca haverem desempenhado funções estatais ou passado por qualquer órgão de poder; Há que denotar, por outro lado, que o tráfico de influencias não de todo se esgota na célebre ordem lojista. Ainda assim, estamos observando a desconstrução do secretismo maçónico, expondo no âmbito desta nova obrigação social, a privacidade de centenas de indivíduos - E terminaremos a temporada noticiosa em modo inquisitorial, aplaudindo uma caça às bruxas, circense, respeitando a boa tradição portuguesa. Inacreditável! 
(…)
Existirão 5000 pedreiros em Portugal e a estatística dita que nos cruzámos ou cruzaremos com eles variadas vezes ao longo da vida. Por ser secreta (discreta) desconhecemos, mas haverão maçãos entre as pessoas que nos prestam serviços, que nos auxiliam, que admiramos, que fazem parte do nosso quotidiano e cuja ligação à organização, se revela absolutamente insignificante. Acredito existirem entre os professores da minha conceituada Universidade (para além do Doutor José Adelino Maltez) outros veneráveis, da mesma forma que outros dos docentes nela agregados se dedicam a causas tão distintas e inócuas, como o catolicismo, o comunismo, o futebol de 11, a preservação de instrumentos laboratoriais, ou a ginástica fitness - porque não à maçonaria? A história aceitará esta relação com a mesma naturalidade com que hoje julgamos os demais passatempos. Alguns dos meus melhores amigos são Maçons. Um deles, representando ipsis verbis a imagem de um ‘homem-bom’, não encarna a figura dum criminoso de colarinho branco, mas do vizinho afável a quem, sem pudor, confiaríamos as chaves da casa ou o cuidado dos nossos filhos. Esse meu amigo não é um sorvedouro de dinheiro público nem tampouco um magnata beneficiário de legislação produzida-à-medida; não se aproveita duma infinita rede de contactos obscuros para apadrinhar o seu negócio, nem exerce influências para acarretar lucros indevidos ou manipula as figuras de estado através do seu poder na grande loja. Não enveredou pelas vantagens: É antes um individuo médio, honrado, que pretende estabelecer-se dentro de interesses próprios para poder sustentar sua a família. Temo porém, que se esta onda de interrogatórios, de investigações particulares e devassa da privacidade prosseguir depois da poeira assentar, ele poderá sofrer um assassinato de carácter, danificando a sua condição de vida, tal como a da esposa e de seus filhos, tudo por haver desejado nalgum momento iniciar-se no conhecido rito. Não sendo funcionário público e embora não creia que se vá candidatar ao parlamento, acho severamente torticeiro obrigá-lo a declarar esta sua conexão aquando da putativa alocação ou eleição - Mais uma vez a sociedade Portuguesa prefere ignorar o problema de fundo nomeando bodes expiatórios, num processo vergonhoso ao longo do qual se ignorarão valores como o labor ou a meritocracia, expondo em alternativa os aspectos mais burlescos duma associação legítima, sem nenhuma solução oferecer para os problemas do país. Para quem defende o individualismo, a liberdade de acção e se indignou com a violação da privacidade cometida nos Estados Unidos pela administração anterior sob pretenso reforço da defesa nacional, trata-se de um atentado inconcebível. Quanto ao meu amigo, membro dessa terrível seita - dominadora do espectro político nacional, quiçá Europeu, e estabelecedora futura da maléfica nova ordem mundial (NWO para os novatos do conspiracionismo) - esqueçam: é a pessoa mais reservada e pacata que podem imaginar. Passaria despercebido por entre multidão.»
(…)

Excerto de artigo retirado, com a devida vénia, daqui

2012/09/01

Somos...

Somos homens livres e de bons costumes e dedicamos parte do nosso tempo a actividades éticas, fraternais, e humanitárias. Muito do que se diz e escreve por aí depreciativamente acerca da maçonaria resulta da ignorância ou da maledicência. Sobrará algum resto de verdade, nessas críticas? Tal não nos surpreende: afinal, somos apenas humanos.

Câmara do Meio


« Ô toi, qui veux parer ton esprit de la Sagesse du Maître et ton cœur de sa Bonté, Ô toi, mon fils bien-aimé, seras-tu assez fort pour supporter ce fardeau surhumain ? Tu fus un apprenti fervent, as-tu aussi été un compagnon consciencieux ? Tu hésites, ta conscience n'ose répondre ! Que dois-je craindre ? De te voir, dès demain, devenir le comédien de tes premières sincérités ? Vas-tu noyer ton ignorance dans le flot des paroles redondantes qui grisent les hommes mais dessèchent l'âme, vas-tu te draper dans ton titre comme le rhéteur dans sa toge ou as-tu compris que plus on monte, plus il faut savoir descendre ? Le grand n'est vraiment grand que lorsqu'il sait se diminuer, le Maître n'est vraiment maître que lorsqu'il se sent redevenir Apprenti. »
162 Pages
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Abecedário Simbiótico


Sinopse
José Adelino Maltez é um reconhecido professor catedrático na área das ciências jurídico-políticas e conhecido pelas suas estimulantes análises das realidades político-sociais, nos mais diversos meios de comunicação social. Menos conhecida é, talvez, a sua surpreendente faceta de poeta, que já leva cinco obras publicadas, a mais recente de Fevereiro deste ano com o título "Sobre o tempo que passa". Num dos seus magníficos poemas recordo estas estrofes "de quantas sementes é feito um livro/de quantas folhas, em tentativa/se compõe uma só página, impressa?/com quantas lágrimas contidas sofremos dor nesta alegria?" De muitas sementes e alegrias está feito este novo e inesperado livro do Adelino Maltez! Abecedário Simbiótico poderia ser mais um livro sobre Maçonaria. O conteúdo de muitas das suas entradas são sobre temas, símbolos, significados, história da Maçonaria ou Maçons e a eles também se referem as siglas ou a bibliografia. Mas o livro é mais do que tudo isso: Simbiótico, tem uma relação de mútua dependência com as coisas do mundo, em benefício mútuo. Na entrada Maçonaria, o autor afirma que se tratava de: " um sistema de moralidade, ilustrada por alegorias e símbolos, a definição mais antiga e universalmente seguida, embora passível de uma pluralidade de interpretações". Talvez seja. Mas é também um percurso iniciático, espiritualista, que permite a compreensão dos símbolos e a prática dos rituais, a fim de dar um sentido peculiar a si próprio apreendido na iniciação. Espiritualidade original na aculturação das mais variadas tradições e filosofias, interrogando-se sobre os grandes mistérios do homem, a sua origem, a sua natureza, a sua finitude, sincretismo filosófico que não impõe nenhum dogma, verdade ou doutrina, permitindo a cada qual ultrapassar-se a si próprio e intervir na cidade para o melhoramento material, moral e social da humanidade. 
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2012/08/15

O que é, e o que não é

«A Maçonaria coloca um considerável empenho em encorajar altos padrões de moralidade entre os seus membros. Mas não é nada surpreendente que uma sociedade que use apertos de mão, sinais e linguagem secreta para o reconhecimento mútuo entre os seus membros se tome mais suspeita de ser uma má que uma boa influência. Senão, porque usariam esses métodos, senão para ocultar a verdade? Porquê ocultar, se nada existe a ocultar?
Os que estão fora da Maçonaria acham tão ridícula a ideia de vestir-se de forma singular, recitar textos esotéricos e realizar estranhos rituais, que tendem a acreditar que deve haver nela alguma outra atracção, e muito mais sinistra. Provavelmente não há... Mas uma negativa é sempre mais difícil de provar.»
(The Daily Telegraph, Londres, 1995)

Pintura de Ari Roussimoff

«... a atitude geral do público em relação à Maçonaria hoje ainda é tão confusa quanto era no século XIX. A maioria das pessoas não confia naquilo que não compreende e, quando sentem algum elitismo que as exclua, essa desconfiança rapidamente se transforma em desagrado e até ódio.
in A CHAVE DE HIRAM, de CHRISTOPHER KNIGHT & ROBERT LOMAS

2012/07/05

Maçonaria hoje


Qual o papel da Maçonaria nos dias de hoje?
Que importância tem a sua existência?
.˙.
Face à crescente desumanização da sociedade, resultado da má condução dos povos e das economias dos países que integram essa realidade inicialmente arrebatadora que baptizámos de Globalização, e que submeteu os valores do humanismo, da cultura e do espírito aos valores do mercado, sobretudo do mercado de capitais; e por outro lado devido à dinâmica vertiginosa da vida hodierna que subverte constantemente o ritmo natural do ser humano – efeito nocivo da sociedade industrial edificada no mundo ocidental -, verificando-se um notório retrocesso civilizacional que mina gravemente os valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tão caros à Maçonaria, não tenho dúvida alguma acerca da necessidade, diria, até, do imperativo da existência da Maçonaria e do reforço da sua obra.
Assistimos, actualmente, a uma preocupante alienação dos indivíduos em relação a muitos assuntos que os deviam inquietar, mas sobre os quais, muitos, nem produzem um simples esforço de reflexão, muito menos de acção, cívica e/ou política. Eis porque, hoje, é tão importante dar continuidade e reforçar a actuação da Maçonaria.
Herdeira de uma tradição espiritual milenar, de uma estrutura multi-secular no seio da qual foram tecidas tantas conquistas do humanismo, esta Ordem universal, filosófica e progressista, tem o dever e a obrigação de salvaguardar, e projectar no futuro, os conhecimentos de que é portadora e os ideais que defende para a Humanidade.
O seu trabalho é, pois, uma batalha constante contra a alienação, a falsidade, a irresponsabilidade; contra um mundo neurótico que vive das experiências velozes, da aparência do ser, da vacuidade das ideias, da perenidade dos prazeres, e de toda a sorte de bens fúteis.
Contra tudo isso se justifica a luta pela Razão, pela Justiça, pela Verdade e pela Fraternidade; uma fraternidade que inclua todos os seres humanos.
Num mundo em que se ampliam as assimetrias sociais e económicas, se aprofundam os enormes fossos entre ricos e pobres, numa realidade iniludível que teima em acrescentar miséria a tantos milhões de seres humanos, "cavar masmorras aos vícios" continua a ser uma tarefa premente da Maçonaria.
Será preciso mais para justificar a sua existência?

2012/06/29

Consciência para um Mundo melhor

Vi a entrevista com Vandana Shiva,  num dos melhores programas da televisão portuguesa, O Tempo e o Modo (RTP2 - 28 de Junho de 2012).
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Vandana Shiva é doutorada em física, escritora e destacada  activista ambiental, nomeadamente em defesa da soberania alimentar, da terra, das sementes e da biodiversidade, contra o oligopólio  das grandes corporações, como a Monsanto. Em 1993, venceu o Right Livelihood Award, a versão alternativa do  Prémio Nobel da Paz. 

Esta senhora alia a física quântica ao activismo social para resistir pacificamente a um sistema que considera ter colonizado a terra, a vida e o espírito. Começou a defender a floresta, as sementes e os modos de vida e produção locais contra o controlo e o registo de patentes feitos pelas grandes multinacionais.

Foi uma entrevista lúcida que permitiu conhecer melhor o pensamento e as razões da militância activa desta mulher natural de um país e de uma cultura com quem temos (nós, ocidentais) ainda muito para aprender. Recorrendo à Internet recolhi mais dados sobre a sua análise acerca deste mundo incoerente em que vivemos.

Destaco, entre outros aspectos importantes do seu depoimento, o alerta que deixa a respeito da emergente conflitualidade interna que se vai formando nos dois gigantes asiáticos, a Índia e a China, países onde se verificam crescentes manifestações populares de contestação social e política (cerca de 100.000 por ano na China, e número idêntico na Índia), e que, segundo ela, virão a constituir problemas sérios nestes países. Têm por base as questões que se prendem com o uso da terra, mas o seu alcance social e económico vai muito mais longe, prenunciando situações de intensa turbulência e conflitualidade.

Shiva remete-nos para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na construção deste mundo desigual, com consequências dramáticas, como a fome e as alterações climáticas, que, para ela, são sintomas de implosão de uma civilização que falha rotundamente, material e espiritualmente. «A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interacção com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a Natureza»

Sobre a crise actual, a entrevistada diz que esta «não poderá ser resolvida com mais financeirização e mais mercantilização», e denuncia o erro do modelo económico dominante que «desperdiça recursos e pessoas»; e que apesar de se auto-proclamar «eficiente e produtivo, substituiu a produção pela especulação do capital financeiro, e do consumismo». Um modelo cujo único resultado só pode resultar na destruição da Natureza e a da sociedade, acrescenta.

Sobre o proteccionismo, denuncia: «O proteccionismo é descrito como um pecado porque a desregulamentação é estabelecida como a norma. Em 1993, organizamos uma manifestação de meio milhão de pessoas para alertar o governo indiano: - Se vocês assinarem os acordos do GATT, os nossos agricultores vão morrer. Hoje, 250.000 agricultores já cometeram suicídio na Índia. Nós queremos que o governo associe a dívida dos nossos camponeses a políticas específicas de desregulamentação do mercado de sementes, situação que permitiu à Monsanto tornar-se na única vendedora de sementes no mercado do algodão, capturando 95% do mercado de sementes de algodão.  «Precisamos redefinir o proteccionismo para centrá-lo na população e na terra. Um proteccionismo voltado aos ecossistemas do planeta é um imperativo ecológico. Trata-se de um dever social e ecológico, e a ganância das multinacionais não é um direito.»

Para impedir a continuação da degradação das condições humanas e naturais, Vandana Shiva defende uma mudança de paradigma e de visão do Mundo e a necessidade das pessoas se organizarem colectivamente e dizer “Basta”. Chega. «A financeirização da economia e a consequente redução da economia a um casino, e os recursos do planeta e processos em mercadorias privatizadas, são a fonte das crises ecológicas e económicas. Estas crises não podem ser resolvidas por mais financeirização e mais mercantilização.»

E a sua denúncia vai mais longe: «Aquilo a que chamam Livre Comércio não tem absolutamente nada de livre. Não é livre pelo modo como foi concebido. Não é democrático. Cinco multinacionais reuniram-se e redigiram um acordo sobre a propriedade intelectual. Isso permite a empresas como a Novartis, roubar os medicamentos aos pobres e cobrar dez vezes mais caro. Um tratamento contra o cancro custa 10.000 rupias por mês, usando os medicamentos genéricos disponíveis na Índia. A Novartis, claro, quer vendê-los por 175.000 rupias por mês. E quando o tribunal decide que o medicamento não é uma invenção da empresa, porque o tratamento já existia, e que a Novartis não podia reivindicar uma patente, a empresa desafia as leis do país. Um sistema em que 85% da população pode morrer por falta de tratamento é um sistema criminoso.»

Sobre esperança no futuro, Shiva partilha o seu optimismo dizendo: «Vejo sinais de esperança onde quer que haja resistência. Cada comunidade na Índia que luta contra o roubo de terras, que participa do nosso movimento Navdanya, para que as sementes continuem sendo um bem de todos. Todos os que rejeitam a economia suicida da Monsanto, praticando uma agricultura biológica, ou todas as comunidades que lutam contra a privatização da água. Tudo o que se passa nas ruas de Madrid, da Irlanda, da Islândia, na Grécia, os resultados do referendo nuclear na Itália… Esses, são, todos, sinais extraordinários de esperança.»

E sintetiza a fórmula da solução: «Tudo o que precisamos é de uma nova convergência. Uma convergência global de todas as lutas. Assim como a libertação de nossa imaginação. Não há limites para o que podemos criar.»

2012/06/15

Humanismo e Maçonaria



“Apesar de explícitos, os compêndios maçónicos não referem o óbvio: que toda a Filosofia, inclusive e em especial a maçónica, esteia-se permanentemente no Humanismo.”

CAMINO, Rizzardo da – Maçonaria Metafísica -, Editora Madras - São Paulo, 2007

2012/05/17

Os Bancos, esses antropófagos



Para aqueles (profanos prenhes de enganos) que enfiam a maçonaria no mesmo saco em que metem o grupo Bilderberg e outras estruturas de interesses político-económicos obscuros, aqui fica uma das muitas mensagens também partilhadas entre obreiros da maçonaria, ainda que a título pessoal, denunciando tais esquemas. O que atesta que jamais as pessoas que integram a maçonaria seriam coniventes com tais ardis cozinhados no segredo e na ignorância dos povos. Nenhuma destas coisas constituem segredo maçónico.*

transcrição de mensagem electrónica: 
"Sabem o que é o banco americano Goldman Sachs?
Recebi um mail de um amigo sobre o assunto em título, que não posso deixar de transcrever, para conhecimento e eventual prevenção geral.
“O pior é que vamos continuar a pagar dos nossos impostos quantias fabulosas que sorrateiramente estão a ser embolsadas por muito boa gente, inclusive portugueses. Os seus nomes só serão conhecidos quando já cá não estivermos.   Nós ficaremos na história como "papalvos " e eles como "vivaços Ricos que sabem de engenharia financeira...
Parece que a "teoria da conspiração" sobre a "nova ordem mundial", não era só teoria...
ABRAM OS OLHOS!!!
Sabem quem é Papademos Lucas  (actual líder grego após a renúncia de Papandreou)? Sabem quem é  Mariano Monti (agora à frente do governo italiano)? Sabem quem é Mario Draghi  (actual presidente do Banco Central Europeu)? Sabem o que é Goldman Sachs?
Goldman Sachs:  é um dos maiores bancos de investimento mundial e co-responsável directo, ligado a outras entidades (como a agência de notação financeira Moody? s), pela actual crise e um dos seus maiores beneficiários.  Como exemplo,  em 2007, a G.S. ganhou 4 bilhões de dólares em transacções que resultaram directamente do actual desastre da economia do EUA.  O EUA ainda não recuperaram das percas infligidas pelo sector especulativo e financeiro dos EUA.
Papademos: actual PM grego  na sequência da demissão de Papandreou.  Atenção: não foi eleito pelo povo.
- Ex-governador do Federal Reserve Bank de Boston, entre 1993 e 1994.
- Vice-Presidente do Banco Central Europeu  2002-2010.
- Membro da Comissão Trilateral desde 1998,  lobby neo-liberal fundado por Rockefeller, (consta que se dedicam a comprar políticos em troca de subornos).
- Ex-Governador do Banco Central da Grécia entre 1994 e 2002.   Falseou as contas do défice público do país com  o apoio activo da Goldman Sachs, o que levou em boa parte à actual crise no país.
Mariano Monti: actual primeiro-ministro da Itália após a renúncia de Berlusconi. Atenção: não foi eleito pelo povo.
- O ex-director europeu da Comissão Trilateral mencionada acima.
- Ex-membro da equipe directiva do supracitado grupo Bilderberg.
- Conselheiro do Goldman Sachs durante o período em que esta ajudou a esconder o défice orçamental grego.
Mario Draghi: actual presidente do Banco Central Europeu para substituir Jean-Claude Trichet. També, não foi eleito pelo povo iataliano.
- Ex-director executivo do Banco Mundial entre 1985 e 1990.
- Vice-Presidente para a Europa do Goldman Sachs de 2002 a 2006, período durante o qual ocorreu o falseamento acima mencionado.
Vejam: tantas pessoas que trabalhavam para o Goldman Sachs....
Bem, que coincidência, todos do lado do Goldman Sachs. Aqueles que criaram a crise são agora apresentados como a única opção viável para sair dela, no que a imprensa americana está começando a chamar de "O governo da Goldman Sachs na Europa."
Como é que eles fizeram?
Encorajaram Investidores  a investir em produtos secundários que sabiam ser " lixo ", ao mesmo tempo dedicaram-se a apostar em bolsa o seu fracasso. Isto é apenas a ponta do iceberg, e está bem documentado, podem investigar. Agora enquanto lêem este e-mail estão esperando na base da especulação sobre a dívida soberana italiana e seguidamente será a espanhola.
Tende-se a querer-nos fazer pensar que a crise foi uma espécie de deslizamento, mas a realidade sugere que por trás dela há uma vontade perfeitamente orquestrada de tomar o poder direto no nosso continente, num movimento sem precedentes na Europa do século XXI.
A estratégia dos grandes bancos de investimento e agências de rating é uma variante de outras realizadas anteriormente noutros continentes, tem vindo a desenvolver-se desde o início da crise e é, do meu ponto de vista, como se segue:
1. Afundar o país mediante especulação na bolsa de valores / mercado. Pomo-los loucos com medo do que dirão os mercados, que nós controlamos dia a dia.
2. Forçá-los a pedir dinheiro emprestado para, manter o Status-Quo ou simplesmente salvá-los da Banca Rota. Estes empréstimos são rigorosamente calculados para que os países não os possam pagar, como é o caso da Grécia que não poderia cobrir a sua dívida, mesmo que o governo vendesse todo o país, e não é metáfora, é matemática, aritmética.
3. Exigimos cortes sociais e privatizações, à custa dos cidadãos, sob a ameaça de que se os governos não as levam a cabo, os investidores irão retirar-se por medo de não serem capazes de recuperar o dinheiro investido na dívida desses países e noutros investimentos.
4. Cria-se um alto nível de descontentamento social, adequado para que o povo, já ouvido, aceite qualquer coisa para sair da situação.
5. Colocamos os nossos (deles) homens, onde mais convenha.
Se acham que é ficção científica, informem-se: estas estratégias estão bem documentadas e têm sido usadas com diferentes variações ao longo do século XX e XXI  noutros países, nomeadamente na América Latina pelos Estados Unidos, quando se dedicavam, e continuam a dedicar-se na medida do possível, a asfixiar economicamente mediante a dívida externa por exemplo a países da América Central, criando instabilidade e descontentamento social usando isso para colocar no poder os líderes "simpáticos" aos seus interesses (vide o caso mais recente da Argentina).
Portanto nada disto tem a ver com o EURO. O EURO é uma moeda Forte, porque os investidores vêm ai carne para desossar, se não houvesse o Euro o ataque acontecia na mesma, só que se calhar os primeiros a cair não seriam os PIGS, mas a própria Alemanha, a Inglaterra etc. Não é propriamente o Governo dos EUA, que desfere estes golpes, mas sim a indústria financeira internacional, principalmente sediada em Wall Street (New York) e na City (Londres). O que está acontecendo, sob o olhar impotente e/ou cúmplice dos nossos governos, é o maior assalto de sempre na história da humanidade à escala global, são autênticos golpes de estado e violações flagrantes da soberania dos Estados e seus povos.
Divulguem na net por favor a todos os vossos amigos. Se nos estão comendo vivos... as pessoas precisam saber. Estamos a sofrer uma anexação pela via financeira, e esta é a realidade."


*Os segredos que a maçonaria guarda são de outra ordem e não envolvem o cidadão comum (o mundo profano).

2012/04/24

dos Landmaks

(…)
Outra incongruência desmedida é o fato de a Maçonaria primar por ser investigadora das verdades e promotora do bem social e, mesmo assim, admitir que seus Landmark “sagrados” são dogmas imutáveis, incontestáveis e absolutos. Que tipo de investigador da verdade é este, que está preso a decretos de algum “desmiolado” preconceituoso do passado, agrilhoado a uma forma pré-estabelecida de pensar, tolhido de seu livre-arbítrio e de sua livre-consciência, trilhando passos já pisados sem poder inquirir um porquê das coisas?
Já era contra o Landmark 18 por ser excludente com as mulheres, que sempre foram nossas iguais e sempre participaram das sociedades iniciáticas do passados, das filosóficas, religiosas e afins. A mulher sempre esteve na Maçonaria desde seu primórdio e só foi “excluída” do seu meio por um pensamento típico clericalista inglês do Século XVIII, machista, esclavagista e classicista. É este mesmo pensamento que exclui até hoje pessoas de bem, inteligentes, produtivas, Humanas, de suas lojas, apenas por não cumprirem com os “padrões de perfeição física” exigidos.
(…)
já ouvi de graduados mestre-maçons, que tinham receio de visitar uma outra Loja, pois não lembravam como se fazer reconhecer maçons caso isso lhes fosse requisitado. Assim sendo, se pessoas capacitadas fisicamente podem “falhar” com os ensinamentos maçônicos e mesmo assim, continuar sendo maçons, sem maiores problemas, por que vamos impedir que outras pessoas sejam iniciadas nos mistérios maçônicos, só por não poderem dar um toque ou fazer um sinal? (…)

texto completo aqui

2012/04/23

do Ritual

«Quando um mestre espiritual e os seus discípulos começavam a meditação do anoitecer, o gato que vivia no mosteiro fazia tanto barulho que os distraía. Então o mestre ordenou que o gato fosse amordaçado durante a prática nocturna. Anos depois, quando o mestre morreu, o gato continuou a ser amarrado durante esse perído da meditação. E quando o gato eventualmente morreu, outro gato foi trazido para o mosteiro e, igualmente, amarrado durante a meditação.
Séculos depois, quando todos os factos do evento estavam esquecidos, perdidos no passado, intelectuais que estudavam os ensinamentos daquele mestre espiritual escreveram longos tratados escolásticos sobre a significância de se amordaçar um gato durante a prática da meditação.»

O Ritual não pode ser coisa estanque, impossivel de evoluir, mudar, transformar-se. Ele foi construído, codificado, adoptado de acordo e em sintonia com um tempo. Mas se o tempo muda, porque não pode mudar o Ritual?

2012/04/20

A Maçonaria em Portugal




A MAÇONARIA EM PORTUGAL
(Segundo textos de Isabel Oliveira)

Ínicio
Herdeira do ritual de transmissão de conhecimentos dos construtores de catedrais da Idade Média, a Maçonaria transforma-se numa ordem de carácter especulativo no século XVIII. Desde então, a pedra bruta é o homem, que se deve ir aperfeiçoando no contacto com os «irmãos» através de uma aprendizagem simbólica. Na comemoração de 200 anos de existência, o Grande Oriente Lusitano entreabre as suas portas ao mundo profano, procurando rectificar algumas ideias feitas sobre a matéria.
O que é então a Maçonaria? Maçonaria (de maçom, pedreiro) significa literalmente pedreiro-livre, podendo traduzir-se modernamente por livre-pensador. Historicamente, a Ordem Maçónica é herdeira das associações de artistas do Mundo Antigo, especialmente do Egipto, da Grécia e de Roma, e está ligada às corporações de pedreiros da Idade Média (século VIII). A religiosidade então dominante exprimiu-se, sobretudo, na construção de templos e catedrais góticas, todas, de resto, semeadas de sinais maçónicos, como acontece, entre nós, na Batalha, em Tomar e nos Jerónimos. Os arquitectos e construtores desses monumentos tinham de ser dotados de profundos conhecimentos técnicos, científicos e artísticos. Tais conhecimentos eram interditos a elementos estranhos, pois a sua divulgação e entrada no domínio público implicavam a perda de prerrogativas. Por isso, apenas eram transmitidos secretamente nas lojas (local de reunião dos maçons) pelos mestres aos discípulos de reconhecida aptidão e honorabilidade, após um juramento solene. Assim surgiu a maçonaria operativa (de operários construtores) e o segredo maçónico ou iniciático. Há indícios de que o chefe destas corporações passou a designar-se em Inglaterra, a partir de 1278, por mestre maçons, o mesmo sucedendo em França com a construção da catedral de Notre-Dame (1283).

Reforma de Lutero
Com a Reforma de Lutero e a cessação da edificação de templos, as irmandades e lojas maçónicas franquearam as portas a pessoas não iniciadas na arte da construção, desde que fosse aprovada a sua admissão e depois de serem regularmente iniciados. Com o passar do tempo, estas lojas foram ficando nas mãos dos membros adoptados. A organização profissional dos construtores de catedrais deriva então para esta Maçonaria, não operativa, mas especulativa, que tomou corpo a partir de 1717, quando quatro Lojas de Londres - cujos membros eram exclusivamente especulativos ou adoptados - fundam a Grande Loja de Inglaterra.

Obediência ou federação de lojas
Nasce também um novo conceito: o de obediência ou federação de lojas. Daqui por diante residirá a soberania, já que unicamente a Grande Loja de Inglaterra tinha autoridade para criar novas lojas. O que o Grande Oriente Lusitano comemora este fim-de-semana é a carta patente que lhes foi concedida pela Grande Loja de Inglaterra em 12 de Maio de 1802, permitindo criar a primeira Obediência portuguesa. O seu primeiro grão-mestre foi um neto do marquês de Pombal: Sebastião José de Sampaio e Melo Castro Lusignan, conde de São Paio.

As Constituições de Anderson
Redigidas em 1723, mas ainda hoje veneradas e respeitadas por toda a Maçonaria - viriam esclarecer que o templo de pedra deixava de ser a tarefa do maçom: o edifício a ser levantado em honra e glória ao Grande Arquitecto do Universo passaria a ser a catedral do Universo, ou seja, a Humanidade. Assim como o trabalho sobre a pedra bruta destinada a transformar-se em cúbica, quer dizer, apta às exigências construtivas, seria o homem, que se iria polindo no contacto com os seus irmãos através de um ensinamento em grande parte simbólico.
Cada instrumento dos pedreiros passou a ter um sentido simbólico: o esquadro para regular as acções; o compasso para dar o sentido dos limites; o avental, símbolo do trabalho, a indicar a simplicidade dos costumes e a igualdade; as luvas brancas, para recordar ao maçom que nunca deve manchar as mãos com a iniquidade; e a Bíblia, para regular ou governar a fé. A finalidade da Maçonaria, à luz destas Constituições, consiste na construção de um templo de fraternidade universal baseado na sabedoria, na força, na beleza, na prática da tolerância religiosa, moral e política, na luta contra todo o tipo de fanatismo e no exercício da liberdade.

Maçonaria anglo-saxónica e a latina
Como existem muitas Maçonarias, há especialistas que estabelecem uma divisão entre a Maçonaria anglo-saxónica e a latina. A primeira é qualificada também como regular, porque se fundamenta na fidelidade aos princípios e às regras ditadas pelos fundadores. As que se encontram sob a influência da Grande Loja de Inglaterra são teístas: apenas aceitam no seu seio os que (cristãos, muçulmanos, judeus, hindus) reconhecem um Deus como princípio criador - o Grande Arquitecto do Universo e uma fé na verdade revelada, tal como se encontra na Bíblia ou noutros livros sagrados como o Corão, os Vedas, etc.

Maçonaria em Portugal
Em Portugal, a Maçonaria regular é representada pela Grande Loja Regular de Portugal/Grande Loja Legal de Portugal (GLRP/GLLP) A outra corrente, dita latina, é de inspiração racionalista ou liberal e renega, como o Grande Oriente de França, a referência ao Grande Arquitecto do Universo. Professa um estrito laicismo, suprimindo a Bíblia dos seus rituais. Deste ponto de vista, o Grande Oriente Lusitano tende a seguir a tendência latina, embora se afirme plural: aceita crentes e não crentes, católicos, judeus, muçulmanos, agnósticos e ateus. «Acima de tudo, somos anti-dogmáticos», afirma João Soares Louro, destacado membro do GOL, acrescentando que «a única certeza que temos é que nos assiste a dúvida permanente. Esta atitude confere uma abertura muito grande». Admite que «nos tempos da I República cometeram-se excessos, o que levou a que muitos pensassem que a Maçonaria era anticlerical. Não somos. Colocamos todos os credos em pé de igualdade». Não obstante a divisão de águas, os maçons de todas as Obediências trabalham com o mesmo objectivo, respeitando-se e tratando-se como irmãos. O projecto de uma Europa unida é também obra dos maçons sem distinção de Obediências. Se se construir, de facto, a Europa dos direitos sociais, talvez se tenha iniciado o que Krause, filósofo maçónico alemão do século XIX, chamou a terceira etapa da Maçonaria, depois das fases operativa e especulativa, ou seja, a transformação do mundo na verdadeira «Aliança da Humanidade».

A maçonaria é uma sociedade secreta?
A maioria dos maçons nega pertencer a uma sociedade secreta. António Arnaut - membro assumido do GOL - chama-lhe «organização discreta», na medida em que «não está aberta ao público e reserva apenas aos seus membros o conhecimento de certas práticas e saberes. Nisso consiste o segredo maçónico». Como afirma Manuel P. Santos no livro «Com a Maçonaria não se Brinca!»: «Actualmente ser maçom não é fácil, pois a discrição que envolve toda a sociedade maçónica revela-se como oposta à ‘transparência’ que deve existir em qualquer sociedade democrática.»
Os maçons reconhecem-se entre si como irmãos, identificando-se com toques, sinais e palavras. Discretíssimo, Ramos Horta, na cerimónia em que recebeu o Premio Nobel da Paz, em 1996, não deixou de levar a mão ao peito, num gesto ritual de agradecimento à Maçonaria. «Este é um dos nossos sinais que passou para a sociedade profana e tende a generalizar-se», explicam-nos. A Maçonaria, como organização iniciativa que é, não pode viver sem um ritual, isto é, sem uma acção simbólica constituída por objectos, gestos e palavras sistematicamente repetidos, os quais, no seu conjunto, representam uma ordem cósmica, um universo ordenado. Parte da iniciação maçónica consiste na vivência, pelo candidato, da sua passagem pelos quatro elementos: terra, ar, água e fogo. A primeira fase tem lugar na Câmara de Reflexões, símbolo da Terra, onde o candidato redige o seu testamento filosófico, ou seja, a manifestação das suas últimas vontades antes de deixar o mundo profano. Numa das paredes desta câmara estão patentes as letras V.I.T.R.I.O.L., significando Visita Interior Terrae Rectificando que Invenies Occultum Lapidem (Visita o Interior da Terra e Rectificando Encontrarás a Pedra Oculta). De natureza alquímica, esta mensagem chama a atenção para o trabalho interior que o profano deve fazer sobre si mesmo, mediante a meditação. Entrado no templo, o neófito submete-se à prova do ar, da água e do fogo. Terminada a cerimónia da iniciação, o candidato, que durante estas três provas tem os olhos vendados, toma pela primeira vez contacto visual com o templo e com os irmãos que fraternalmente o rodeiam e acolhem. Ao entrar na Ordem Maçónica, o iniciado recebe o avental de aprendiz, cuja finalidade simbólica é protegê-lo na sua missão de desbastar a pedra bruta. E é junto às duas colunas que se encontram à entrada do templo - e que simbolizam as colunas da Força e da Estabilidade do Templo de Salomão - que o aprendiz recebe os ensinamentos do seu grau.
O toque deve ser dado em sinal de reconhecimento maçónico, entre irmãos. É um código que, apesar da sua utilização dever ficar circunscrita ao espaço do templo, com o avançar do tempo, ganhou foros universais, permitindo em qualquer sítio saber se alguém foi iniciado como maçom. Quando alguém estranho à Maçonaria estava entre maçons, era costume usar a palavra «chove» para dar a conhecer a presença de um não iniciado. Passados os tempos da clandestinidade, só a tradição justifica o seu uso. O espaço do templo é muito específico, o que exige que o caminhar (marchar) seja executado segundo regras particulares. A marcha no templo varia conforme o grau em que os maçons trabalham, mas obedece à regra da geometria, que salienta a posição vertical do maçom, exemplo da conduta que ele deve levar na vida profana.
A cadeia de união é outro acto praticado por todos os maçons em loja, no qual eles dão as mãos, colocando o braço direito sobre o esquerdo, de forma a criarem entre si uma verdadeira cadeia. Se, por um lado, o cerimonial maçónico exige silêncio, por outro, requer a presença de música, de modo a que os sentidos sejam estimulados para o ritual que se pratica. A tradicional música maçónica de Mozart ainda hoje é tocada nos trabalhos de loja, em particular nas sessões de iniciação e noutras de carácter solene. Não é por acaso que no III Encontro da Maçonaria Latina se inclui uma ópera de Mozart, neste caso «A Flauta Mágica». Identificando-se o aprendiz com a pedra bruta, os instrumentos simbólicos que lhe são atribuídos para o seu aperfeiçoamento são o martelo e o escopo, próprios ao desbaste. Já o companheiro requer instrumentos de maior precisão, nomeadamente o esquadro, o nível, a perpendicular, a alavanca e a régua. Os companheiros são elevados a mestre na Câmara do Meio. A partir deste grau, que pode demorar anos a obter, o maçom está em condições de ajudar novos obreiros no seu percurso iniciático.
Actualmente, para se ser maçom é preciso ter mais de 18 anos, ter recursos para pagar as captações - a quota mensal no GOL ronda os 17,5 euros (3500$00) - ser livre e de «bons costumes».
Tem de se procurar um padrinho ou proponente e submeter-se às «provas».
Na Maçonaria regular, a estes requisitos junta-se a obrigatoriedade de se crer num Deus, o Grande Arquitecto do Universo. A relação da Igreja Católica com a Maçonaria conheceu períodos de grande tensão, sobretudo a partir do século XVIII. Nas décadas de 1720-1730 e 1730-1740, a Maçonaria penetrou em toda a Europa e fora dela. Foi um avanço impressionante, que assustou sobretudo a Igreja. O Papa Clemente XII, logo em 1738, promulgou a primeira bula de excomunhão contra os pedreiros-livres, iniciando uma longa série de documentos papais a condenar a Ordem Maçónica. Ordenou ainda à Inquisição a perseguição dos seus adeptos. No nosso país, a Inquisição prendeu, torturou e condenou ao degredo os maçons da loja de John Coustos, um suíço, depois naturalizado inglês, que se tinha radicado em Lisboa.

A Maçonaria e o marquês de Pombal
A Maçonaria só voltaria a ter paz sob o governo do marquês de Pombal, um estrangeirado, que se supõe ter sido iniciado durante o período de residência além fronteiras. Na sequência do terramoto de Lisboa, em 1755, o plano de reconstrução da cidade contaria com a colaboração do arquitecto húngaro Carlos Mardel, um destacado maçom da Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia. A praça do Rossio e a do Comércio têm a sua «assinatura». Há quem considere que o Terreiro do Paço (também chamado Praça do Comércio) não é mais do que a recriação de um templo maçónico: o Cais das Colunas, que actualmente se encontra em obras, representaria a entrada, com as colunas J e B; o Arco da Rua Augusta é visto como a sua continuidade. De notar ainda que o triângulo por cima do Arco é outro símbolo maçónico por excelência.

A maçonaria com Pina Manique
Derrubado o marquês de Pombal, a Maçonaria voltou a conhecer a perseguição, agravada com D. Miguel e com Pina Manique. O triunfo definitivo do Liberalismo (1834) e a ascensão de D. Pedro IV, grão-mestre da Maçonaria brasileira, marca um período de apogeu da Ordem, que só viria a terminar com a revolução de 28 de Maio de 1926. Em finais do século XIX e princípios do XX, o ideário maçónico começou a identificar-se com a ideologia republicana, apesar de haver muitos obreiros monárquicos. Por isso, a República foi, essencialmente, obra de maçons. A revolução de 28 de Maio de 1926 não promoveu, nos primeiros anos, qualquer ofensiva contra a Maçonaria, talvez porque alguns dos seus chefes, incluindo Carmona e o Almirante Cabeçadas, eram maçons. A entrada de Salazar para o governo e a sua rápida ascensão tutelar reavivaria os velhos ódios das forças obscurantistas. Em 19 de Janeiro de 1935 é apresentado na Assembleia Nacional um projecto de lei a proibir as associações secretas e a confiscar-lhes todos os bens. O alvo era claro: a Maçonaria. Nem a circunstância de o presidente da Assembleia Nacional, José Alberto dos Reis, ser um antigo maçom lhes valeu. Curiosamente, o Estado Novo não varreu completamente a Ordem do mapa de Lisboa: muitas ruas mantiveram os nomes de destacados maçons, como ainda hoje se pode verificar.
Outro dos actos comemorativos dos 200 anos do GOL será, precisamente, a divulgação completa da toponímia lisboeta associada à Maçonaria.
Com o 25 de Abril de 1974, é restabelecido o direito de associação. O primeiro Governo Provisório foi chefiado por um maçom, Adelino da Palma Carlos. O Palácio Maçónico, no Bairro Alto, ocupado durante a ditadura pela Legião Portuguesa, foi restituído ao Grande Oriente Lusitano.

A Maçonaria nos tempos que correm
Nos tempos que correm, sobretudo após João XXIII, o Concílio Vaticano II e a própria Companhia de Jesus, a Igreja encara com outros olhos o fenómeno maçónico. Não é, pois, de estranhar que o actual Código de Direito Canónico (1983) tenha omitido qualquer referência à Maçonaria, e revogado o cânone 2335 do anterior (1917), que excomungava «ipso facto» os inscritos na «seita maçónica» e em organizações «que maquinam contra a Igreja ou contra as legítimas autoridades civis». À intolerância sucedeu a compreensão e uma certa simpatia. A esta mudança de mentalidade não foi, seguramente alheia a circunstância de muitos católicos e altos dignitários da Igreja serem maçons. Regimes como o comunismo e o fascismo também não quiseram nada com a Maçonaria. O IV Congresso Internacional dos partidos comunistas, em 1922, aprovaria a seguinte resolução: «Aquele que não tenha declarado abertamente à sua organização, e feito público através da imprensa do partido, a sua ruptura total com a Maçonaria, será automaticamente excluído do Partido Comunista». Curiosamente, no mesmo ano em que a Internacional Comunista lançava o anátema contra os maçons, na Itália, o primeiro Estado fascista da história, dirigido por Mussolini, convidava «os fascistas que são maçons a escolher entre pertencer ao Partido Nacional Fascista ou à Maçonaria, porque para os fascistas somente há uma disciplina, a disciplina do fascismo; uma só hierarquia, a hierarquia do fascismo; uma só obediência absoluta, devotada e diária ao chefe e aos chefes do fascismo». «Onde há um maçom, há uma semente de liberdade. Por isso fomos considerados um perigo tanto para o comunismo como para o fascismo», diz-nos Fernando Sacramento, membro do GOL. «Nas lojas, tudo é debatido (excepção feita para a política e a religião) e tudo é votado (através de bola preta e bola branca), é o centro de maior democracia que pode existir», garante, acrescentando que «não temos um projecto de poder nem de afirmação na sociedade». Explica: «Os maçons têm obrigação de intervir na vida pública e política, de lutar pela liberdade, pela igualdade e pela fraternidade (os nossos três grandes princípios), mas apenas a título individual.»
No mundo profano, a Maçonaria funciona em grande parte através de instituições que fomenta, cria ou dirige, mas que têm vida própria, desligada da vida maçónica interna.
Em Portugal, este tipo de instituições que o historiador Oliveira Marques designa como «para-maçónicas» existem desde o século XVIII, especializadas em múltiplos aspectos da actividades social: cultura, beneficência, política, direitos do homem, relações internacionais, etc. Os exemplos são inúmeros: a Academia das Ciências (nos idos de Setecentos), as «Escolas Livres» fundadas no princípio do século passado; A Voz do Operário (1883); os Jardins-Escola João de Deus (1911). As associações para-maçonicas também intervieram para criar estruturas laicas na vida social, como a Associação Liberal Portuguesa (1889) e a Associação do Registo Civil (1895). Há ainda notícia de grupos de combate à escravatura e à pena de morte fundados no século XIX com ampla participação maçónica, e de alguns criados no século XX para lutar contra a prostituição, o alcoolismo e o jogo.

A Maçonaria e os seus Santos Patronos
A Maçonaria tem dois santos patronos e protectores: São João Baptista e São João Evangelista. Porquê São João? Porque foi a 24 de Junho - dia de São João - que, em 1717, as quatro lojas de Londres se reuniram e deliberaram criar a Grande Loja de Londres, dirigida por um grão-mestre. São João Evangelista abre o solstício de Verão; São João Baptista é comemorado com o solstício de Inverno. A Ordem maçónica respeita e venera o ciclo solar - os trabalhos dos pedreiros fundadores realizavam-se entre o meio-dia (zénite solar) e a meia-noite em ponto (zénite polar) - e as estações do ano. O equinócio de Setembro marca o início dos trabalhos, que são encerrados por altura do solstício de Junho. Este calendário maçónico seria depois importado pelo sistema judicial e académico. Ainda hoje, tanto os tribunais como as universidades continuam fiéis a esta programação ditada pela Natureza. Mas os maçons distinguem-se ainda por comemorar a passagem de ano no equinócio de Março, com a chegada da Primavera. De acordo com as suas contas, estamos no segundo mês do ano de 6002. Antes de encerrarem as lojas para as férias de Verão e logo após os festejos do bicentenário, os maçons do GOL entram em campanha eleitoral. As eleições para grão-mestre estão marcadas para 1 de Junho. Entre os candidatos já conhecidos, estão António Arnaut, José Fava e Carlos Morais dos Santos. Os dois mais votados irão ao tira-teimas da segunda volta. Outra importação dos modelos maçónicos, novamente por parte do meio judiciário e académico, tem a ver com o traje. O balandrau, bata preta comprida, com gola ampla para tapar a cabeça, é a indumentária «oficial» da Maçonaria, por cima da qual se coloca a paramentação (avental). Ora, as becas dos advogados e juízes e as togas, usadas em cerimónias solenes nas universidades, não são mais do que «adaptações» do ritual maçónico. As becas e as togas antigas chegaram a ter também gola e aquela espécie de capuz que caracteriza o balandrau.

Maçonaria no Mundo
Existem cerca de dez milhões de maçons em todo o mundo. Mas é na Inglaterra e nos Estados Unidos da América que a sua influência mais se faz notar. Convém não esquecer que a Inglaterra foi o berço da Maçonaria: em 1717, quatro lojas de pedreiros de Londres organizaram-se numa espécie de federação a que deram o nome de Grande Loja, elegendo um primeiro grão-mestre com autoridade sobre todos os maçons. Seis anos mais tarde, o pastor escocês James Anderson era incumbido de elaborar umas Constituições que todos aceitassem. Fernando Sacramento, membro do GOL, não tem dúvidas em afirmar que os ingleses edificaram o seu extenso império colonial com a ajuda da Maçonaria: «A instalação de lojas militares nos quatro cantos do mundo - abertas, posteriormente, às profissões liberais, e integrando as classes com maior influência social e económica nas diferentes possessões - contribuiu decisivamente para a propagação do sistema democrático defendido e praticado na Grande Loja de Londres.» Organismos de grande prestígio internacional como a ONU, criada em 1945 em Nova Iorque, a UNESCO (instituição da ONU para a Educação, Ciência e Cultura) ou a Cruz Vermelha Internacional, foram impulsionados sobretudo por maçons. Há também quem diga que o Acordo de Paz de Camp David, firmado em 1978 entre Israel e o Egipto, parecia um encontro de irmãos, pela simbologia utilizada nas saudações finais.
A crer nesta interpretação, os três protagonistas do acordo - Menahem Begin, primeiro-ministro de Israel, Anouar el-Sadate, primeiro-ministro egípcio, e Jimmy Carter, presidente dos EUA - quiseram dar provas da sua gratidão para com a Maçonaria, que tinha manobrado intensamente nos bastidores para que tudo desse certo.
Em Inglaterra - à semelhança de outros países nórdicos - existe ainda uma ligação estreita entre a Monarquia e a Maçonaria e o grão-mestre é o rei por inerência de cargo. Actualmente, e porque está uma mulher no trono (Isabel II), é o duque de Kent que detém a autoridade máxima da maçonaria inglesa. Em terras de Sua Majestade ninguém estranha a influência e a participação de maçons nas mais altas esferas do poder: da Câmara dos Lordes aos Serviços Secretos, Forças Armadas, Governo. Winston Churchill, primeiro-ministro inglês em 1940-45 e em 1951-55, era maçom. A disposição espacial da Câmara dos Comuns (rectangular, com cadeiras face a face) é uma recriação de um templo maçónico.
A Maçonaria desempenhou também um papel importantíssimo na fundação dos Estados Unidos da América. Não é com certeza por acaso que a nota de um dólar está ainda repleta de símbolos maçónicos. Como não é por acaso que a Bíblia sobre a qual prestam juramento todos os presidentes dos EUA é proveniente de uma loja maçónica.
O Livro Sagrado foi usado por George Washington, o primeiro presidente dos EUA e maçom assumido. Antes, Benjamin Franklin, cientista e «pai» da independência dos «States», também pertencera à organização. E o mesmo se pode dizer de outros presidentes dos EUA: Abraham Lincoln (republicano) e Franklin Roosevelt (democrata), à frente da nação americana entre 1933 e 45.


Em Portugal
O GOL não é a única organização maçónica em Portugal. Um grupo descontente com a tendência laica do Grande Oriente decide promover o ressurgimento da Maçonaria Regular no nosso país, criando em 1991 a Grande Loja Regular de Portugal (GLRP).
Em 1996, já com Luís Nandim de Carvalho como grão-mestre, a sede - a célebre Casa do Sino - é tomada por cisionistas (entre os quais figurava José Braga Gonçalves, que viria a ser preso em 2001 na sequência do «caso Universidade Moderna»), que assumem o nome de Grande Loja Regular de Portugal, pelo que os fundadores da Maçonaria Regular, mantendo a designação, têm de adoptar para efeitos legais profanos o nome de Grande Loja Legal de Portugal (GLRP/GLLP). O seu atual grão-mestre, José Manuel de Morais Anes, sublinha que a Maçonaria anglo-saxónica «reconhece exclusivamente em Portugal a GLRP/GLLP», que também comemorará o aniversário da criação da primeira Obediência maçónica regular portuguesa. José Anes insiste que não se poderão comemorar os 200 anos de Maçonaria Regular «porque a Grande Loja Unida de Inglaterra decidiu retirar o reconhecimento ao GOL pouco mais de 100 anos depois». A sessão solene de Junho, que marca o 11º aniversário da Grande Loja Regular de Portugal, contará com a presença do marquês de Northampton, pró-grão-mestre da Maçonaria inglesa. O programa das comemorações inclui ainda uma homenagem ao rei Eduardo VII.
Júlia Maranha é a grã-mestra da Grande Loja Feminina de Portugal, que integra nomes conhecidos, como Helena Sanches Osório (ex-directora de «A Capital», ex-subdirectora de «O Independente»), Leonor Coutinho (ex-secretária de Estado da Habitação) e Maria Belo (antiga euro deputada do PS).
Entre as correntes menos expressivas, destaca-se a Jurisdição Nacional da Federação Internacional do Direito Humano, por ser um caso único de organização mista. É liderada por Jorge Gomes.
A Grande Loja Regular de Portugal (cisionista), que foi fundada por diversas personalidades ligadas ao «caso Universidade Moderna», é actualmente dirigida por Marques Miguel.
E a Grande Loja Nacional de Portugal, que foi criada após uma cisão com a anterior, tem como dirigente máximo Álvaro Carva. Finalmente, a Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia, que é fruto de uma segunda cisão operada entre os dissidentes que haviam ocupado a Casa do Sino, está praticamente extinta.

Literatura sobre a matéria
Sobre a matéria recomenda-se a leitura da «Introdução à Maçonaria», de António Arnaut (Coimbra Editora), «A Maçonaria em Portugal» e «A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo», de Oliveira Marques (Edição Gradiva e Publicações Dom Quixote, respectivamente), «História da Franco-Maçonaria em Portugal», de M. Borges Grainha (Edições Vega), «Com a Maçonaria não se Brinca!», de Joaquim M. Zeferino e Manuel P. Santos (Hugin Editores) e «O que é a Maçonaria», de Alberto Victor Castellet (Madras Editora).

Personagens maçónicos portugueses:
Afonso Costa - Alexandre Heculano - Alfred Keil - Almeiga Garrett - António Augusto de Aguiar - António José de Almeida - Bissaia Bareto - Bocage - Camilo Castelo Branco - Carlos Mardel - Castilho - Duque de Loulé - Duque de Saldanha - Eça de Queiroz - Egas Moniz - Elias Garcia - Fernando II - Gago Coutinho - Gomes Freire de Andrade - Henrique Lopes de Mendonça - Miguel Bombarda - Norton de Matos - A. H. de Oliveira Marques - Pedro IV - Rafael Bordalo Pinheiro - Raul Rego - Ribeiro Sabches - Teófilo Carvalho dos Santos - Viana da Mota

(Segundo textos de Isabel Oliveira 2007/8)