2019/04/13

Pensar

Uma publicação picada do Facebook (que não é apenas uma latrina de vacuidades), e que apresenta matéria de cariz filosófico que vem ao encontro de algumas das nossas preocupações existenciais. Reproduzo:

~ Daquilo que é mais difícil pensar ~
Se, da diferença entre ambiente animal e mundo humano, ‘nem a cotovia vê o aberto’ (1)

“Heidegger foi talvez o último filósofo a acreditar de boa-fé que na ‘cidade’ – o espaço onde reina a latência (estímulo-resposta correspondente) – ainda fosse possível encontrar um destino histórico para o povo. Foi assim o último a acreditar que o conflito entre o homem e o animal ainda pudesse produzir história e consignar o destino de um povo. É provável que se tenha apercebido do erro visto que, em 1934, escreveu que “a possibilidade de uma grande comoção na existência histórica de um povo está esgotada. Templos, imagens e costumes já não estão em condições de assumir a vocação histórica de um povo de modo a incumbi-la de uma nova tarefa.
Hoje é claro, para quem não esteja de absoluta má-fé, que já não existem tarefas históricas passíveis de serem assumidas ou sequer atribuíveis. Agora o que está em causa é bem diferente e extremo — a tarefa de assumir a própria existência fáctica dos povos.
O homem alcançou finalmente o seu objectivo histórico e nada resta para além da despolitização das sociedades através do alastramento incondicionado da oikonomia ou seja, da vida biológica como tarefa política suprema.
(…) será que não vemos, à nossa volta e entre nós, homens e povos sem essência e já sem identidade a procurar por todo o lado e às cegas, a custo de grosseiras falsificações, uma herança como tarefa? (…)
As potências históricas tradicionais – poesia, religião, filosofia – que mantinham desperto o destino histórico-político dos povos, foram há muito tempo, transformados em espectáculos culturais e experiências privadas, e perderam a eficácia. (…) a única tarefa que parece ainda conservar alguma seriedade é tomar a cargo a «gestão integral» da vida biológica, isto é, a própria animalidade do homem.” (2)

Sobejará a crua assumpção de que ‘os homens são animais, e alguns fazem criação dos seus semelhantes’ (3). 
Mais a mais sabe-se (deveria ser consabido) que ‘os animais têm memória, mas nenhuma recordação’ (4).
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1 - Heidegger
2 - Giorgio Agamben
3 - Peter Sloterdijk
4 – Heymann Steinthal