«A maçonaria está nas bocas do mundo! É curioso observar como se lançou um tema tabu para a praça pública, quando há alguns meses atrás era impensável acusar alguém, ou haver assumpções de estar correlacionado aos pedreiros livres, reconhecendo sobretudo como a vistosa, mediática peneira maçónica, é suficiente para tapar a desonestidade, a corrupção e a ausência de ética profissional no exercício dos poderes públicos, verdadeiros flagelos do Portugal moderno. Culpabilizar toda a maçonaria pelo comportamento de alguns elementos, é redutor e injusto, uma forma de descriminação equiparável à homofobia, esquecendo que muitos são cidadãos anónimos sem nunca haverem desempenhado funções estatais ou passado por qualquer órgão de poder; Há que denotar, por outro lado, que o tráfico de influencias não de todo se esgota na célebre ordem lojista. Ainda assim, estamos observando a desconstrução do secretismo maçónico, expondo no âmbito desta nova obrigação social, a privacidade de centenas de indivíduos - E terminaremos a temporada noticiosa em modo inquisitorial, aplaudindo uma caça às bruxas, circense, respeitando a boa tradição portuguesa. Inacreditável!
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Existirão 5000 pedreiros em Portugal e a estatística dita que nos cruzámos ou cruzaremos com eles variadas vezes ao longo da vida. Por ser secreta (discreta) desconhecemos, mas haverão maçãos entre as pessoas que nos prestam serviços, que nos auxiliam, que admiramos, que fazem parte do nosso quotidiano e cuja ligação à organização, se revela absolutamente insignificante. Acredito existirem entre os professores da minha conceituada Universidade (para além do Doutor José Adelino Maltez) outros veneráveis, da mesma forma que outros dos docentes nela agregados se dedicam a causas tão distintas e inócuas, como o catolicismo, o comunismo, o futebol de 11, a preservação de instrumentos laboratoriais, ou a ginástica fitness - porque não à maçonaria? A história aceitará esta relação com a mesma naturalidade com que hoje julgamos os demais passatempos. Alguns dos meus melhores amigos são Maçons. Um deles, representando ipsis verbis a imagem de um ‘homem-bom’, não encarna a figura dum criminoso de colarinho branco, mas do vizinho afável a quem, sem pudor, confiaríamos as chaves da casa ou o cuidado dos nossos filhos. Esse meu amigo não é um sorvedouro de dinheiro público nem tampouco um magnata beneficiário de legislação produzida-à-medida; não se aproveita duma infinita rede de contactos obscuros para apadrinhar o seu negócio, nem exerce influências para acarretar lucros indevidos ou manipula as figuras de estado através do seu poder na grande loja. Não enveredou pelas vantagens: É antes um individuo médio, honrado, que pretende estabelecer-se dentro de interesses próprios para poder sustentar sua a família. Temo porém, que se esta onda de interrogatórios, de investigações particulares e devassa da privacidade prosseguir depois da poeira assentar, ele poderá sofrer um assassinato de carácter, danificando a sua condição de vida, tal como a da esposa e de seus filhos, tudo por haver desejado nalgum momento iniciar-se no conhecido rito. Não sendo funcionário público e embora não creia que se vá candidatar ao parlamento, acho severamente torticeiro obrigá-lo a declarar esta sua conexão aquando da putativa alocação ou eleição - Mais uma vez a sociedade Portuguesa prefere ignorar o problema de fundo nomeando bodes expiatórios, num processo vergonhoso ao longo do qual se ignorarão valores como o labor ou a meritocracia, expondo em alternativa os aspectos mais burlescos duma associação legítima, sem nenhuma solução oferecer para os problemas do país. Para quem defende o individualismo, a liberdade de acção e se indignou com a violação da privacidade cometida nos Estados Unidos pela administração anterior sob pretenso reforço da defesa nacional, trata-se de um atentado inconcebível. Quanto ao meu amigo, membro dessa terrível seita - dominadora do espectro político nacional, quiçá Europeu, e estabelecedora futura da maléfica nova ordem mundial (NWO para os novatos do conspiracionismo) - esqueçam: é a pessoa mais reservada e pacata que podem imaginar. Passaria despercebido por entre multidão.»
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Excerto de artigo retirado, com a devida vénia, daqui