Em resposta a este artigo
«A maçonaria - os pedreiros livres - nascem como um dos
primeiros lobbies corporativos registados na Europa. A esquerda gosta de os
apresentar associando-os a uma condição humilde (pedreiros!) omitindo que eram
a elite cultural do seu tempo e que como artífices altamente qualificados que
eram, auferiam os rendimentos mais elevados da época.»
Se isso é o que diz a esquerda, o
que diz a direita maçónica? Bem se vê que o autor não leu nenhum livro de História da Maçonaria,
se o tivesse feito saberia que em todos eles se distingue Maçonaria Operativa
de Maçonaria Especulativa e se reconhece que efectivamente esta última era
constituída pela elite cultural do seu tempo, e maioritariamente monárquica. A
composição da maçonaria francesa nas vésperas da Revolução serve de exemplo:
alta burguesia, clero e alguma nobreza, sans culottes e revolucionários é que
certamente não havia. São os mitos sobre a Revolução Francesa, mormente sobre a
participação da Maçonaria. Mesmo a respeito de republicanos, deviam contar-se
pelos dedos de uma mão os que assim se consideravam e que participaram na
revolução de 1789. Há uma incapacidade “digestiva” que afecta os monárquicos contemporâneos
em reconhecer que a revolução francesa foi iniciada por monárquicos e não por
republicanos – e certamente contava com alguns maçons entre eles.
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«Como elite cultural, e sentindo a necessidade de discrição
inerente a todos os grupos corporativos, associado às crenças próprias da época
do seu surgimento - final da idade média / início da idade moderna - a
maçonaria encasulou-se em práticas próprias, cheias de rictos místicos e
símbolos cujo significado procuram proteger. Ainda hoje assim é (embora os
artesãos que a compõem já sejam de outras “artes”).»
Associado às crenças, não. Antes
denunciando as crenças e pugnando pelo livre-pensamento, coisa que veio
incomodar o establisment mental, principalmente o tutelado pela religião, enquanto
pseudo-detentora da Verdade, i.e. os pais do dogmatismo.
Em todo o caso, generalizar é tão
acertado que até me permitiria dizer que todos os monárquicos são idiotas e
anacrónicos – o que é obviamente ridículo.
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«E ao longo da sua história, a maçonaria mais não tem feito
que, continuadamente, obrigar os seus membros a uma obediência estrita e cega,
única forma de garantir que se protegem uns aos outros e que isolada e
colectivamente concorrem para a defesa dos interesses de cada um.
Ocasionalmente até se darão uns ares de contribuírem para a sociedade no meio
da qual se movem e vivem, embora a nobreza das suas intenções esteja por
comprovar.»
Falar daquilo que se desconhece tem
sempre o inconveniente de errar desbragadamente. Mas convinha não confundir a
Maçonaria com qualquer Igreja ou partido político. Não há, na Maçonaria, dogma
intangível em que acreditar nem ordem superior a que obedecer cegamente. Quanto
ao defenderem-se uns aos outros, se assim não procedessem ao longo dos tempos teriam
sido exterminados pela verrina do obscurantismo de que o presente texto é um
bom exemplo, embora atenuado pela civilidade hodierna - e não é difícil
imaginar como seria se escrito há um século atrás.
E não, os maçons não se dão ares de
contribuírem para a sociedade porque os seus contributos, parcos ou avultados,
são sempre discretos. Ao contrário da hipocrisia dos bem-feitores tradicionais,
não publicitam a oferta de uma cadeira de rodas a um necessitado, como não procedem
ao espectáculo da esmola à porta da igreja local (mas tais atitudes são compreensíveis
sobretudo quando provenientes de uma religião que tem por divindade uma
entidade que deixou o seu filho morrer na cruz por uma questão de marketing).
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«Diga-se que nem todos os maçons o sejam apenas por ambição
interesseira, que muitos o são por crença dogmática na bondade da organização.
Poderá ser boa... mas da fama de má é que não se livra.»
A crença dogmática é para outros,
que se sentem necessitados dela, não para os maçons. Quanto à má fama, ela
deve-se tanto aos falsos maçons – que também os há, ao aproveitarem-se da tolerância
da Ordem – como das históricas perseguições movidas pelos seus detractores de
antanho, tanto quanto à incompreensão derivada do obscurantismo dos detractores
de hoje.
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«Foi a maçonaria que dividiu o país durante as invasões
francesas - as obediências francesa e inglesa nunca se puseram de acordo e
submetidas a uma “obediência portuguesa” que não existia.»
Para além de não se perceber a
relação que tenta estabelecer estre as duas maçonarias estrangeiras com a
portuguesa, também não é assertivo nessa ânsia de tudo imputar à Maçonaria. Independentemente
da influência dos maçons presentes em ambos os lados do conflito, as razões da
divisão do país serão mais do foro político e de imperativos de ordem prática
militar. Teríamos de tratar aspectos mais concretos para abordar este assunto.
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«Foi a maçonaria que influenciou a independência do Brasil
(país onde está fortemente implantada).»
E também pode acrescentar os Estados
Unidos da América, mas não o afirme em relação à França pois tal não é correcto
– ainda que alguns maçons desavisados também o tenham afirmado, reproduzindo a
invenção do Abade Barruel.
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«Foi a maçonaria que iniciou o republicanismo em Portugal -
e da forma como o fez, é este o seu maior crime contra o país:»
Parece não haver dúvidas acerca da
participação activa de inúmeros maçons na implantação do republicanismo em Portugal.
Quanto à qualificação desse facto, o autor apoda-o de crime, eu de glória. Mas
convinha diferenciar entre acção da Maçonaria, que não o foi, de acção em que participaram maçons, o que terá sido.
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«No dia 1 de Fevereiro de 1908, Manuel Buiça e Alfredo
Costa, num atentado de surpresa tiram a vida ao Rei D. Carlos e ao Príncipe D.
Luís Filipe, até este dia, herdeiro do trono. Os dois atiradores eram elementos
da carbonária, uma organização subsidiária da maçonaria (aliás, por muitos
vista como o seu “braço armado”) e no dia 4 de Outubro de 1910 a maçonaria
inicia o golpe que numa fantochada rocambolesca - digna das melhores comédias
de Hollywood - culmina com a declaração da implantação da república (em Lisboa)
no dia seguinte. No resto do país a república foi implantada por telégrafo e
apenas no dia 6, perante a indiferença geral. E a partir deste dia, os
criminosos Manuel Buiça e Alfredo Costa deixaram de o ser e passaram a louvados
mártires da causa republicana.»
Tal era a qualidade dessa monarquia
que caiu e foi obliterada por uma “fantochada rocambolesca”?! Nada a acrescentar,
pois perante tais afirmações só posso ironizar.
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«E de então para cá a maçonaria não tem parado de crescer e
de exercer a sua influência em todos os sectores de actividade de um país cuja
única esperança é que ela cresça de tal forma que impluda sobre si própria.»
Durante a 1ª República a Maçonaria
cresceu efectivamente, para reduzir drasticamente durante o Estado Novo, e crescido
moderadamente após 1974, mantendo-se assim até ao presente (não alcançará os 7.000
membros divididos pela meia dúzia de obediências existentes). Gostava de saber
é como é que estes 7.000 portugueses conseguem “influenciar todos os sectores
de actividade” quando apenas uma percentagem reduzida deles está envolvida na
política e estão, ainda, divididos por 3 ou 4 partidos e, mais importante,
divididos em meia dúzia de obediências maçónicas, algumas sem qualquer relação
entre si, tampouco um tratado de amizade que permita reuniões comuns?! Andamos
com a febre das teorias conspirativas, claro!
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«Ciente da fragilidade da pretensa “pulsão republicana” do
país, a maçonaria apressou-se a blindar o modelo de organização do Estado,
impondo no texto Constitucional que Portugal é uma república, o que impede
quaisquer veleidades monárquicas a quem quer que seja antes do texto ser revisto.
Ciente da fragilidade da pulsão republicana do país e da credulidade primária
do povo, a maçonaria tem até propagado que a república já foi sufragada (e
quando questionada sobre quando é que isso foi feito, respondem com os parcos
resultados eleitorais do PPM em todos os sufrágios a que se apresentou).»
É evidente e natural que o novo regime
(e não a Maçonaria) tenha procurado blindar-se e evitar o regresso ao anterior.
Se o fenómeno fosse o inverso, seria perfeitamente natural que sucedesse coisa semelhante.
Porém, hoje, e ao abrigo das concepções que temos da Democracia, os maçons são
os primeiros a defender a possibilidade de alterar a constituição para permitir
a vigência de um regime monárquico; tal como defendem o valor superior do referendo
universal; tal como é intrínseco ao próprio conceito de Democracia.
A Maçonaria não está nem esteve
contra a monarquia; simplesmente não impõe aos seus membros nenhum modelo
político, deixando-os lutar e pugnar pelos ideais em que cada um acredita.
Hoje, tal como em 1910 ou 1920, existem republicanos e monárquicos na Maçonaria.
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«Passam hoje 108 anos sobre o assassínio de um Rei e do seu
Filho.
Um Rei que se debatia com a fragilidade económica, mas mesmo
assim procurava modernizar o país e puxá-lo para o mesmo patamar das nações suas
parceiras, um Rei que procurava a unidade do Estado e pugnava pelo bem-estar do
povo (quiçá, por não apoiar ilicitudes na protecção de interesses de uns
quantos teve o fim que se conhece), acaba trocado por um regime que se tinha a
si próprio como o fim em si mesmo, perdido nas intrigas mesquinhas e nas
disputas de interesses que ainda hoje testemunhamos, com os resultados que
estão à vista de todos.»
É o chamado lirismo de alcova. O
facto é que se sua majestade procurava tudo isso, nunca o alcançou, nem andou
perto. Provavelmente procurava no fundo do mar ou nas telas que pintava, ou
nalgum dos pauis em que caçava patos. É escusado tentar elevar o protagonismo da
real pessoa acima da existência fútil, e relativamente alheada da realidade, que
caracterizava a esmagadora maioria dos coroados dos inícios do séc. XX. Também
não vale a pena tentar imputar ao rei os males que se viviam no Portugal de
então. É certamente, e principalmente, culpa da qualidade dos políticos que
existiam (na monarquia e na república que lhe sobreveio), tal como o é aos
políticos de hoje a falta de qualidade da Democracia que temos. E em última
análise, à falta de qualidade do povo que somos.
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«Seriam estes resultados evitáveis se ainda vivêssemos sob
uma Coroa?
Ninguém sabe - as coisas são como são e foram como foram.
Seguramente, a monarquia em Portugal sempre procurou andar ao compasso do seu
tempo e o fosso que separava Portugal dos restantes países, longe de estreitar,
com a república aumentou.
É este texto um libelo contra a república? Contra a
maçonaria?
Os factos são o que são.
Se a República quiser ser melhor que a Monarquia, tem que
fazer melhor, muito melhor. Se a Maçonaria quer limpar a sua imagem, tem que se
tornar mais transparente, muito mais!»
«Se a Republica quiser ser melhor»,
como se a Monarquia o tivesse sido. Se o povo e os políticos são os mesmos, com
a mesma qualidade ou falta dela, como pode a monarquia ser substancialmente diferente
da república? Cada um pinta os factos como pode. Eu tenho consciência do (meu) uso
das tintas, por isso duvido bastante, sobretudo daquilo que me é próprio e
próximo. Ao que não me é próximo encolho os ombros, porque me parece que aí não
pontifica esse exercício da dúvida. E de dogmas não estou comprador.
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«Apenas recordo factos:
Há 108 anos, houve um duplo assassinato e há 106 os
assassinos passaram a heróis...»
E depois? Quantos príncipes e reis não
o fizeram em 700 anos de história monárquica portuguesa, nunca plebiscitada?!
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Assim respondo eu, livre-pensador, libertário
de Direita, agnóstico e maçom, sem vincular com estas respostas o pensamento de
nenhum outro livre-pensador, libertário de Direita, agnóstico ou maçom.