2013/09/16

A Grande Conspiradela






É notório que temos uma obsessão profunda para procurar o sentido das coisas. Tudo tem de fazer sentido dentro da nossa capacidade de compreensão. Ora, no mundo complexo em que vivemos, e que frequentemente nos desafia com acontecimentos que aparentemente não fazem sentido, as superstições e as teorias da conspiração surgem como formas de explicar esses acontecimentos, de encontrar o significado que necessitamos, habitualmente de forma simples.

No mundo tecnológico de hoje, onde a Ciência prova que muitas das coisas antigamente consideradas sobrenaturais, são afinal perfeitamente naturais, a superstição tem vindo a perder importância; mas a nossa obsessão por significados continua exigente, ao ponto de substituir a superstição por teorias de conspiração. Assim é com o fenómeno OVNI e com as sociedades secretas, mas existem teorias de conspiração de todos os tipos, desde alegações de que Hitler ou Elvis Presley não morreram até a ida à Lua ter sido uma farsa, passando pelas mirabolantes teorias sobre 11 de Setembro.

Em todas as teorias de conspiração verificamos o mesmo padrão: partem de um pressuposto real, o que dá alguma plausibilidade à história, envolvem um cronograma sinistro que despoleta o interesse geral: quem não está interessado numa história sobre o Armagedão, a destruição da humanidade? E, por último, mas não menos importante, possuem lacunas que podem ser facilmente preenchidas, ainda que não possam ser verificadas em caso de contestação da teoria; sendo praticamente impossível contar com provas incontestáveis de que uma teoria de conspiração é falsa, quando as evidências são refutadas ou ignoradas simplesmente com a alegação de que são fabricadas e que fazem parte do plano de desinformação para pensarmos que a conspiração não é real.

A teoria da conspiração, tal como a superstição, procura explicar os fenómenos do mundo de uma forma simples, ainda que algumas se afigurem extremamente complexas. Porém, a chave da teoria da conspiração não é sua complexidade mas sim o facto de possuir sentido para o público leigo, pois é fácil para alguém que não entenda de Física aceitar que uma bandeira não tremularia no vácuo do espaço e, portanto, a bandeira americana supostamente tremulando na Lua seria uma prova de que a viagem foi forjada. Eis uma explicação simples, que parece fazer sentido.

Para quem não acredita, pode parecer estranho, mas para a maioria das pessoas é mais apelativo imaginar que um corrector da Bolsa tenha sido manipulado para matar diversas pessoas no estádio de Futebol do que simplesmente aceitar que se tratou de um homem, enlouquecido por um qualquer motivo pessoal ou profissional, que resolveu disparar contra a multidão.

O mundo é demasiado imprevisível para ter o sentido que queremos e, por vezes, também é demasiado decepcionante. E nós, humanos, temos dificuldade em aceitar um mundo onde centenas de vítimas morrem num terramoto que não discrimina justos e injustos, inocentes e pecadores. É difícil admitir que não houve um grande plano maligno ou um teste de uma arma secreta, e que foi simplesmente uma tragédia imprevisível. Assim, atribuir tais coisas a conspirações ajuda-nos não só a encontrar um sentido, mas também a aceitar as vicissitudes de um mundo que por vezes é difícil de compreender à luz das nossas noções éticas e morais, e outras construções culturais que nada têm a ver com a Natureza e os seus fenómenos.

É importante termos consciência da facilidade com que nos enganamos a nós próprios, pois embora algumas das teorias das conspirações possam ser inofensivas, outras podem prejudicar gravemente a vida, a nossa e/ou a de outrem. Embora, muito frequentemente, não representem mais do que uma imensa perda de tempo.

Acreditar em teorias da conspiração é um erro. Podemos, e devemos, aceitar a existência de conspirações, quando os factos nos são facultados ou a eles temos acesso; mas factos verificáveis e comprováveis, submetidos ao contraditório do teste analítico, racional, sistemático, e validados por essa via. Quando não, acreditar em teorias que não apresentam fundamentos/provas verificáveis constituirá, em última análise, uma participação – produzindo apenas ruído –, nessas hipotéticas conspirações que pretensamente estamos a tentar denunciar.

Aqui se encaixam as patetices sobre a conspiração das sociedades secretas para governar o mundo, ou um qualquer país. Acreditar nestas teorias poderá ser útil àqueles que isoladamente, ou em lobby, organizam esquemas de apropriação dos bens alheios, públicos ou privados, protegidos nessa nuvem difusa e imensa que generaliza e identifica erradamente os alvos, agigantando-os na sua gigantesca quimera conspiratória.

Usem a Razão, não a Imaginação.

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