2015/03/29

Da Maçonaria na Revolução Francesa à Revolução Francesa na Maçonaria



dos sans-culotte aos sem-cabeça
Da Maçonaria na Revolução Francesa

à Revolução Francesa na Maçonaria

Sobre a relação da Maçonaria com a Revolução Francesa são muitos os absurdos publicados, quer em obras consideradas idóneas e de referência historiográfica quer em múltiplos sítios na Internet. No fundo, tudo não passa de uma lenda que imputa aos maçons a autoria da Revolução. Lenda nascida em 1792 sob a pena do Abade Lefranc, popularizada em 1797 pelo Abade Barruel e continuada no século XX por Augustin Cochin entre outros, e que coloca em evidência o suposto grande número de revolucionários maçons e a importância do simbolismo maçónico na iconografia revolucionária. O despautério propagou-se e multiplicou-se até aos nossos dias, encontrando eco em várias formas e suportes de informação, mesmo entre maçons, eis alguns deles:

«A maçonaria teve influência decisiva em grandes acontecimentos mundiais, tais como a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos. Tem sido relevante, desde a Revolução Francesa em diante, a participação da Maçonaria em levantes, sedições, revoluções e guerras separatistas…»  

«Em 1789 , de todos os movimentos libertários, foi na Revolução Francesa que a Maçonaria teve uma participação mais forte, e que resultou no massacre de milhares de pessoas e na anulação do conceito de religião, quando a França “aboliu” a existência de Deus e entronizou em seu lugar uma prostituta como deusa “Razão”; passando à perseguição dos religiosos e à destruição de todos os exemplares das Escrituras Sagradas, o que resultou num caos e nas trevas morais.»

«A história da França desde a Revolução Francesa permite uma ilustração impressionante do que vimos ser o mot d’ordre das forças naturalistas ou anti-sobrenaturalistas – favorecer durante algum tempo uma Potência Protestante a fim de arruinar uma Potência Católica. Na obra maçónica As Constituições da Maçonaria ou Ahiman Rezon, publicada pela Grande Loja da Irlanda em 1858, consta que Frederico “O Grande” da Prússia foi iniciado em 1738 e que em 1761 pediu ao seu representante que convocasse um Grande Consistório de Príncipes do Segredo Real em Paris, a fim de dar uma patente ao Irmão Stephen Morin para que apresentasse aquele sistema ao mundo. Em 1762, Frederico, Rei da Prússia, foi proclamado Grande Inspector-geral Soberano, 33º grau, para ambos os hemisférios. Essas datas são mencionadas porque Frederico, usou toda sua influência na Maçonaria para instigar a preparação da Revolução e enfraquecer a França. Além disso, ele fez tudo em seu poder para separar a França da Áustria e desfazer os efeitos benéficos causados pelo casamento de Maria Antonieta com o futuro rei, Luís XVI, em 1770.»

Como pano de fundo para este devaneio, a imensa tapeçaria fantástica urdida pelos assustados e intolerantes religiosos, de que o jesuíta Barruel é apenas um de vários exemplos; ele, que afirmou na sua obraMémoires pour servir à l'histoire du Jacobinisme[Memórias e Contributos para a História do Jacobinismo]: «Nesta Revolução Francesa, tudo, até nos seus crimes mais espantosos, tudo foi previsto, meditado, constituído, resolvido, estatuído; tudo tem tido o efeito da mais profunda perversidade, pois que tudo foi preparado, conduzido por homens que tinham, sozinhos, o fio das conspirações há muito tempo tramadas dentro das sociedades secretas».

E uma vez mais o espírito demagógico do zeloso Barruel atribuía a Diderot, d’Alembert, Voltaire e a outros maçons, a inspiração da Revolução, incluindo, entre os cúmplices, d’Argenson, Choiseul, Malesherbes, Turgot e Necker. Nessa obra afirma ainda: «A conjuração visa, antes de tudo, destruir o Cristianismo».

Ora, para perceber os factos e encontrar a verdade devemos começar pelo contexto histórico:
A França do Antigo Regime era um país absolutista i. e., o rei governava com poderes absolutos controlando a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião dos súbditos. Não existia qualquer tipo de democracia, e os opositores eram presos ou condenados à morte. O Terceiro Estado era formado pelos trabalhadores urbanos, camponeses e pequena burguesia comercial, que arcavam com a quase totalidade dos impostos que alimentavam uma nobreza ociosa e uma corte ofuscante. A vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, o que suscitava um crescente mal-estar e o ardente desejo de melhorias. A pequena burguesia, mesmo tendo uma condição social melhor, desejava uma maior participação política e mais liberdade económica, a exemplo do que acontecia na Inglaterra. 

Para além de alguns aspectos estruturais, já referidos, analisemos com mais detalhe os aspectos conjunturais. Na década de 1780, a produção agrícola, base da economia francesa, ressentiu-se das severas condições climáticas, materializadas em más colheitas, com consequente aumento dos preços dos alimentos e ocorrência de fome e miséria para grande parte da população. Registou-se também uma crise na produção manufactureira resultante de um mau acordo com a Inglaterra, em que a França aceitou baixar os impostos sobre os produtos ingleses em troca de semelhante redução dos impostos sobre o vinho francês no mercado inglês; daí resultando muitas falências e aumento do desemprego. Outro factor considerável para o profundo descontentamento popular reside na crise política que atingiu a monarquia francesa, principalmente ligada ao aumento dos gastos da corte e ao custo das guerras em que a França se envolveu.  Perante este cenário o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais para tentar resolver os problemas. Na abertura dos trabalhos da Assembleia, em Maio de 1789, o rei insistiu no voto por estados e que a Assembleia tratasse apenas das questões do deficit financeiro da monarquia e das medidas para combatê-lo. Face à insistência dos representantes do povo e da pequena burguesia – o Terceiro Estado –, na questão do voto individual, o rei decidiu abruptamente encerrar os trabalhos da Assembleia. Os deputados do Terceiro Estado saíram de Versalhes e dirigiram-se a Paris com a intenção de formar uma Assembleia Nacional e redigir uma constituição para a França. Luís XVI receando perder o domínio dos acontecimentos instou os demais estados (nobreza e clero) a participarem nessa nova assembleia. Porém, numa manifestação de força e de afirmação do poder real enviou tropas com o intuito de dispersar as manifestações populares que se verificavam em Paris. E este terá sido o rastilho que incendiou a população revoltada, que em 14 de Julho de 1789 invadiu a Bastilha, a prisão dos inimigos da monarquia e símbolo maior da repressão.

Analisemos, agora, o que foi a Revolução:
Não houve apenas uma mas quatro revoluções, entre 1789 e 1799; e cada uma delas consumiu a sua antecessora. A primeira revolução teve claramente um cunho aristocrático e constitucional, por um lado partidária do Duque D’Órleans (Grão-Mestre do GOF), por outro defensora de um sistema de monarquia constitucional com Luís XVI, segundo o modelo inglês, ou, preservando a monarquia, mas seguindo os passos do constitucionalismo liberal americano. A primeira Assembleia Constituinte saída da revolução integrava cerca de 200 maçons, num total de cerca de 1177 deputados - e por aqui se vê qual a expressão maçónica nesta importante instituição da Revolução. A segunda revolução, girondina, foi burguesa, defensora dos direitos da propriedade, monárquica e constitucionalista. Dos deputados da Assembleia girondina supõe-se que pouco mais de 200 fossem maçons, num total de 745. Vários chefes girondinos eram maçons, como Brissot, presumivelmente membro da loja Les Neuf Soeurs (As nove Irmãs), de que também fariam parte Danton e Desmoulins, os algozes de Brissot e do directório girondino, que os conduziram ao cadafalso. A terceira revolução, jacobina, também contou com maçons nas suas fileiras, homens como Georges-Jacques Danton e Maximilien Robespierre; ainda que este último não fosse muito devoto à Ordem sabe-se que frequentara na juventude a loja Hesdin. Mas nada disto, desta condição de fraternidade que une os maçons, fez com que se verificasse qualquer harmonia entre eles, até porque Hébert, Desmoulins e Danton, foram guilhotinados a mando de Robespierre. E na quarta Revolução, thermidoriana, coube a vez aos maçons Robespierre e Couthon, entre outros, de perderem a cabeça na guilhotina, de novo às mãos de revolucionários que também integravam alguns maçons como Collot d’Herbois e Barras, p. ex. Por conseguinte:
«(…) não se vislumbra possível um complot maçónico que traçasse um plano tão caótico quanto o foi a sucessão de acontecimentos da Revolução Francesa, nem se imagina que os homens que eventualmente tivessem delineado semelhante tragédia quisessem ser suas vítimas pela sua própria morte e pela morte de muitos dos seus amigos.»
In RUI A. “MAÇONARIA E REVOLUÇÃO” http://revolucaoemfranca.blogspot.pt/2011/06/maconaria-e-revolucao.html

Analisemos agora a origem desta tese que faz da Revolução uma produção maçónica. Ela é praticamente contemporânea dos primeiros acontecimentos revolucionários, e é devida ao Abade Lefranc que em 1792 publicou um livro intitulado “Conjuration contre la religion catholique et les souverains, dont le projet conçut en France doit s’exécuter dans l’Univers entier”, [Conspiração Contra a Religião Católica e os Soberanos, Cujo Projecto Concebido em França Deve Ser Executado em Todo o Mundo], onde atribui à Maçonaria a autoria da Revolução. Lefranc, executado nesse mesmo ano juntamente com quase duas centenas de outros clérigos, deixou a semente que iria ser largamente divulgada em toda a literatura anti-maçónica e anti-revolucionária, destacando-se nessa literatura o célebre livro [Memórias e Contributos para a História do Jacobinismo] do abade Barruel publicado em 1798. E foram principalmente estas obras que instituíram essa ideia da existência de uma conspiração tecida fora da França e que a toma de assalto visando o derrube das monarquias europeias; assim foi identificada a Franco-Maçonaria francesa, enquanto braço armado de uma sinistra Ordem dos Iluminados da Baviera.

É evidente que a Maçonaria não terá sido um elemento absolutamente neutro no curso dos acontecimentos, mas isso não faz dela agente destacado da Revolução. Constatemos os factos:
1 - A Maçonaria tinha, muito antes dos primeiros actos revolucionários, uma penetração efectiva na sociedade francesa, já que as primeiras lojas surgiram logo após 1717, ano da fundação da Grande Loja de Londres.
2 - Em 1735 eram inúmeras as lojas de origem inglesa e escocesa em França, ao ponto de ter sido proclamado um Grão-Mestre para este país (em Junho de 1738). Aí foi instituído o cargo de Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons do Reino de França, e nele investido o Duque d’Antin, substituído depois da sua morte pelo Conde de Clermont, ao qual sucede, em 1772, o Duque d’Orléans, como Sereníssimo Grão-Mestre do então designado Grande Oriente de França.
3- Antes do começo da Revolução e até à fuga da aristocracia, a Maçonaria francesa era composta eminentemente pela aristocracia e pela alta burguesia, à qual se juntava um número considerável de padres católicos. A Maçonaria francesa não era, portanto, um redil de conjurados anti-monárquicos movidos pelo objectivo de destruir a nobreza e o clero e implantar uma república.
4 – Acerca do republicanismo dos primeiros revolucionários franceses, recorde-se que Desmoulins disse, pouco antes de morrer, que em 1789, na Tomada da Bastilha, os republicanos não seriam, em França, mais do que meia dúzia. A reforçar esta ausência de espírito republicano, sublinhe-se que o próprio Robespierre só se confessa republicano pouco antes da queda do Rei. Ou seja, o republicanismo de 1792 a 1794 não existia ainda no espírito dos revolucionários de 1789, menos ainda dos maçons dessa altura.

Agora já podemos compreender que a Maçonaria era, nesses tempos primevos da Revolução, uma instituição de convergência entre a aristocracia, a alta burguesia e o clero, na qual fervilhavam certamente ideias do iluminismo, mas não era uma organização que conspirava para derrubar o poder político e as ordens sociais em vigor que tantos dos seus membros integravam.
«Parece hoje inquestionável que, apoiado por homens como Mirebeau e De Laclos e, até - há quem o sustente - pelo próprio Danton, o Duque d’Orléans conspirou contra o rei seu primo e gastou nessa actuação uma verdadeira fortuna, ele que era o segundo maior proprietário do reino, imediatamente a seguir a Luís XVI. Estas eram, pelo menos, as suspeitas de Luís XVI (…) embora hoje se acredite que a sua participação no fomento do fervor revolucionário não teve a dimensão (…) que alguma historiografia lhe concedeu. É certo que ele foi Grão-Mestre do GOF, mas parece também que a sua proximidade à Maçonaria era mais honorífica e formal do que material. O verdadeiro administrador-geral do GOF foi, por esses tempos e até 1789, quando emigrou para Inglaterra na sequência dos primeiros acontecimentos revolucionários (e, nesse mesmo ano, para Lisboa, onde veio a morrer), o émigré Sigismond de Montemorency-Luxembourg, adversário declarado do Duque d´Orléans e fiel partidário da Monarquia (na melhor das hipóteses, Constitucional...), que queria ver protagonizada por Luís XVI e não pelo seu duvidoso primo.»
In RUI A. (obra citada)

Após a queda da monarquia a 10 de Agosto de 1792, o Duque D’Orleáns tornou-se uma figura patética, mormente como Citoyen Égalité. Caído em desgraça foi preso em Abril de 1793, durante o regime do Primeiro Terror e, e em desespero, tentou desmarcar-se do seu passado maçónico – o que demonstra bem a falta de consideração que a jovem República tinha pela Maçonaria –, publicando uma vergonhosa carta de contrição onde pedia desculpa por ter sido maçom; que não lhe serviu de nada pois a guilhotina decepou-lhe a cabeça em 6 de Novembro de 1793. E assim se conclui que os acontecimentos até 1789 ultrapassam qualquer conspiração da Maçonaria, ou de maçons, que pudesse ter sido traçada em prol das pretensões do Duque d’Orléans, a figura apresentada como a mais proeminente dessa maçonaria, pretensamente, mãe da Revolução.

Afigurando-se, agora, evidente que a Maçonaria não planificou a Revolução Francesa, porque tal era manifestamente impossível pela natureza da sua formação, bem como devido à extensa variedade dos interesses e das sensibilidades que integraram aquela acção revolucionária, resta a hipótese da maçonaria ter influenciado os amotinados através da divulgação das ideias revolucionárias. Porém, se parece certo que Diderot, Rousseau e o próprio Condorcet foram maçons, e se as lojas terão servido para fomentar a aproximação social e política entre a nobreza dominante e a burguesia emergente, a realidade mostra que esses elementos característicos de uma parte da Maçonaria actual não a influenciavam nesse tempo e foram adquiridos posteriormente.

E assim é, pois no começo da Revolução a maçonaria francesa era monárquica, uma vez que grande parte dos revolucionários admitia os valores do Ancien Régime, embora já existisse no seu seio um componente importante que perfilhava um reformismo constitucional - influência dos Estados Unidos que Lafayette trouxera e fizera imprimir em 1789 no texto da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual evoca os valores da liberdade e da igualdade, do primado da lei, do direito da propriedade, da necessidade de contenção do poder soberano, da Constituição, da separação de poderes do Estado, etc. ideais provenientes mais do iluminismo inglês e escocês, do que do iluminismo francês:
«Por outro lado, os valores que mais tarde marcariam parte da Maçonaria francesa, como o anti-clericalismo e o jacobinismo republicano, não podem atribuir-se ao pensamento maçónico do tempo da Revolução. Voltaire, o grande filósofo anti-clerical, seria feito maçom a 7 de Março de 1778, menos de três meses antes de morrer. Voltaire, toda a vida anti-clerical e anti-católico, terá querido morrer católico (segundo o número de Abril de 1778 da revista francesa Correspondence Littéraire Philosophique et Critique, onde está publicada uma declaração do filósofo anunciando a sua conversão e a sua confissão a um padre católico, o Padre Gautier), pelo que não terá procurado a Maçonaria para a tentar influenciar com um anti-clericalismo que já não possuía, como alguns autores defendem, obviamente sem qualquer sustentação.»
In RUI A. (obra citada)

E para ajudar à perpetuação da lenda mirabolante, um pouco por toda a parte, maçons desavisados proclamam que a Revolução Francesa foi feita pela Maçonaria, inspirada na sua divisa LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE. Ora, repare-se que essa divisa foi adoptada pela IIª República em 1848, e só no ano seguinte pelo Grand Orient de France. Mas é evidente que esta partilha da mesma divisa também ajudou a alimentar a lenda que coloca os maçons como arquitectos da Revolução, lenda reforçada pelas obras publicadas no início do século XX, como a de Gustave Bord, La Franc-maçonnerie en France, que repete as teses fantasiosas da conjura maçónica veiculadas pelo seu grande arauto, o abade Barruel. Acresce, ainda, que no que toca ao plano religioso o ateísmo que alguma Maçonaria proclama hoje era inequivocamente rejeitado pelos maçons de então. Mesmo Robespierre tinha profundas convicções religiosas – tendo, até, atacado os herbertistas pelo facto destes se declararem ateus. Todos estes factos demonstram que a Revolução Francesa não foi urdida pela maçonaria.

Mas, então, a Maçonaria não possuía um ideal republicano?
Certamente que não, pois quando a República se implantou a maçonaria praticamente desapareceu e tal facto é compreensível já que a Ordem era defensora da Monarquia Constitucional e avessa a rupturas com os princípios da primeira Revolução. Aliás, Nicola Aslan no seu livro “História da Maçonaria”, assegura que no dia 17 de Julho de 1789, «numa recepção feita a Luis XVI, depois da tomada da Bastilha, os maçons, que lá estavam em grande número, fizeram a abóbada de aço sob a qual o rei, espantado e amedrontado, passou». Esse gesto, de respeito e apoio maçónico ao rei, desmente o jesuíta Barruel e reforça a convicção de que não foram os maçons que fizeram a Revolução e, muito menos, pretenderam destruir o Cristianismo.

Em Conclusão: A Revolução Francesa foi um marco importante na história da civilização. Proporcionou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza e granjeou autonomia e direitos sociais para o povo. A vida dos trabalhadores, em geral, melhorou significativamente. Por outro lado, permitiu à burguesia o acesso à condução da sociedade garantindo o seu domínio político e social. Deve-se à Revolução Francesa o estabelecimento das bases da sociedade burguesa e capitalista, e também influenciou, com os seus ideais iluministas, a independência de muitos outros países, nomeadamente do continente americano, e alguma abertura de espírito nas sociedades europeias mais tradicionais e conservadoras.

Daqui se conclui, sem margem para dúvidas, que não é possível estabelecer com plena exactidão em que medida – quantidade, frequência e intensidade -, os maçons participaram na Revolução Francesa, embora seja inequívoco que dela fizeram parte, pois assim o testemunham inúmeros factos históricos, alguns dos quais referidos neste sintético trabalho. Porém, a Ordem Maçónica não passou de um protagonista, menor e silencioso, dessa revolução que mudou o Mundo, não obstante ter sido repetidamente maltratada por ela, ainda que a tenha influenciado em vários momentos através das ideias; ideias que, de resto, não eram originariamente suas, nem sequer partilhadas por todos os maçons.

Por isso, podemos afirmar que o contributo da Maçonaria na Revolução Francesa aconteceu a nível individual, e de modo nenhum como resultado de um plano previamente gizado. E também podemos dizer que uma parte importante da Maçonaria que hoje conhecemos foi influenciada pelos valores saídos da revolução, valores como a laicidade, o republicanismo e o igualitarismo. Ou seja, não foi a Maçonaria que mudou a França e o Mundo através de uma revolução, mas sim a Revolução Francesa que influenciou a Maçonaria, levando-a a ir mais longe nos seus ideais, já que materializou velhas aspirações libertárias e abriu caminho para trilhar novos percursos humanistas.



2015-03-28
H., M:. M:.
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