Meu caro, venho por este meio
convidar-te a integrar uma instituição de que faço parte. Trata-se de um grupo
de homens que trabalham para um objetivo comum sob o signo da Fraternidade e da
Tolerância. Homens que repudiam a injustiça, a desonestidade, a corrupção, o
obscurantismo e a ignorância. O que achas? Estarias disponível para integrar um
grupo assim?
Imagino a tua perplexidade em
relação ao convite que te faço nesta mensagem. Afinal, não dispor de nenhuma
informação sobre a instituição para a qual te convido deve-te causar muita
estranheza. Por isso escrevo estas linhas. Elas não irão revelar mistérios que
existam ou que imaginas existir, até porque só se aceitares o convite é que
irás, pelo teu esforço, trabalho e estudo, encontrar a resposta a todas as
interrogações que tens e outras que virás a ter.
E o que é, então, esta instituição?
A sociedade humana tem-se
organizado, ao longo dos tempos, em grupos de interesses: religiosos,
políticos, económicos, etc. Mas ao mesmo tempo que um determinado interesse, ou
um conjunto deles, caracteriza um grupo, origina também antagonismos entre
grupos com interesses divergentes. A História é profícua em exemplos desses
conflitos. O próprio carácter religioso protagonizou embates e incoerências
cruéis em nome de Deus, por exemplo.
Ora, o que pensas de poder reunir
homens que professam as mais variadas religiões, mas que aceitam, por comum acordo,
denominar a entidade suprema como sendo o Grande Arquitecto do Universo e que aceitem a partir
deste ponto comum praticar a tolerância e nunca tentar impor a outrem a sua
religião? Ou até mesmo homens que não professam religião alguma mas que não se
importem que outros o façam? Já teremos aí dirimido um factor histórico de
divisão entre os homens, não concordas?!
Outro aspecto que te apresento para
análise é a própria composição de um grupo. Normalmente os grupos são compostos
por uma determinada característica que estabelece a afinidade entre os seus
componentes. Este de que te falo tem a proposta de multidisciplinaridade. Sem
que haja predominância de uma área do conhecimento sobre outras procuramos pessoas
de qualquer profissão: médicos, marinheiros, engenheiros, pedreiros, professores,
advogados, empresários, comerciantes, operários, etc. Enfim, a tónica é que a
possibilidade de troca entre pessoas com diferentes conhecimentos constitua um factor
de impulso para o aperfeiçoamento individual e colectivo.
Esta aprendizagem é norteada
apenas pelo limites do Livre Arbítrio, ou seja de uma maturidade instalada e
instrumentalizada para estar permanentemente à disposição de actuar em prol dos
avanços e progressos da humanidade, do combate ao obscurantismo, ao
autoritarismo, na defesa dos direitos universais individuais e colectivos, e na
incessante busca de justiça.
Nesta altura já deves estar a
pensar quão difícil é juntar um grupo de homens que busquem estes princípios e
que não estejam diferenciados e divididos na sua forma de actuação. Pois bem, é
necessário estabelecer aí um novo acordo. Já ouviste alguma citação do tipo “sou
totalmente contrário ao que pensas, mas defenderei com a minha vida o direito
que tens de pensar assim”? Pois este é o acordo! Independente da concepção
política, económica, religiosa ou filosófica de um membro do grupo, este
respeita o direito do outro pensar de forma diferente. Posso imaginar que o meu
igual esteja enganado, mas parto sempre do pressuposto de que ele está convicto
e que ao defender o que pensa o faz honestamente. Portanto só posso pretender
uma mudança pela persuasão e para isso deverei encontrar a forma e os
argumentos adequados.
Vês, assim é possível fazer funcionar
com harmonia um grupo formado por homens que pertençam a partidos políticos
diferentes, a diferentes clubes de futebol, a igrejas diferentes, etc. Outra
característica que deves conhecer é a de que estes homens se tratam com
fraternidade e apoiam-se mutuamente para atingir os seus objectivos. Nada mais
natural já que a luta de um é a luta de todos, e em prol da sociedade. Mas, atenção,
é preciso deixar claro que este auxílio mútuo não se aplica a outros objectivos
que não sejam comuns. Está aqui uma diferenciação transparente e definitiva com
os grupos corporativos que bem conhecemos na sociedade. Através de sinais
próprios estes homens identificam-se em qualquer parte do mundo, reconhecem-se
como irmãos e tratam-se como tal.
Pelo que leste até aqui já podes
imaginar quanto de superstições, de incorrecções, de invenções e de distorções
são propagadas a respeito deste grupo. Imagina quantos interesses foram
desestabilizados pela acção de homens assim, livres. Libertação de nações,
movimentos abolicionistas, campanhas de instrução, entre muitas outras visando
a valorização dos indivíduos, dos cidadãos, e dos direitos humanos.
Tais acções de homens livres
carrearam a ira e a reacção de monarcas, governantes, igrejas e outros poderes
tradicionais. Portanto, a partir da óptica dos ameaçados na perda do seu poder
discricionário era preciso combater, difamar e expor ao ridículo com informações
incorrectas e assustadoras que pudessem convencer a opinião pública mantendo-a
atrelada ao discurso dos difamadores. Pois aos que dominam por crendice e
engodo, um grupo de homens livres, corajosos, libertários e coesos
representava, realmente, um sério risco.
Obviamente que um grupo de homens assim não
poderia circular por aí com autocolantes ao peito, no meio a tantos obstáculos
que hoje, infelizmente, ainda perduram e que noutros tempos foram muito
perigosos, fatais até.
Portanto o grupo é fechado,
discreto; mas não secreto. As suas acções e a identificação pública de alguns
de seus componentes acontecem, normalmente, vários anos após os factos em que
intervieram. Até porque o anonimato é cultivado mais como uma virtude que uma
omissão ou fuga. Assim, a entrada de um novo membro é tomada por decisão dos
demais que através de cuidada observação de alguém e das suas acções na
sociedade, entendem convidá-lo. Ninguém bate à nossa porta a pedir entrada,
pois para isso teriam de saber onde se situa a porta e, mais importante, como
bater correctamente. Estes obstáculos funcionam como um mecanismo de manutenção
da qualidade de recrutamento e, portanto, da manutenção da homogeneidade do
grupo.
Para que analises as parcerias a
que estarás submetido se aceitares este convite, e para que conheças algumas acções
que nos são atribuídas posso citar: A Revolução Liberal de 1820; a Abolição da
Pena de Morte em 1867; a Implantação da República em 1910. E outra acção
importante que contou com a participação de elementos da nossa instituição: A Revolução
de Abril de 1974.
Entre personagens públicos posso citar alguns nomes da segunda
metade do século passado: os generais Norton de Matos e Humberto Delgado; o
escritor Vitorino Nemésio; o cardeal Costa Nunes; o médico e filantropo Bissaya
Barreto; o advogado e Provedor de Justiça José Magalhães Godinho; os autores da
música e da letra do Hino Nacional, Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça,
respectivamente; e o humorista Raúl Solnado, entre muitos outros notáveis ou anónimos.
No panorama internacional cito
apenas alguns, dos muitos que por todo o mundo deram ou dão o seu contributo à
mesma causa: Edwin Aldrin, o primeiro homem a pisar o
solo lunar, Alexandre Fleming, inventor da penicilina, o pintor Marc Chagall,
Churchill, Garibaldi, Simon Bolívar, Salvador Allende.
Ao contrário daquilo que muitos pensam
este grupo não age institucionalmente na sociedade. Com excepção de acções
filantrópicas e educativas, sempre anónimas, todas as demais acções são
individuais e constituem reflexo da postura consciente e cidadã de cada membro,
mesmo que outros membros do grupo estejam também a apoiá-lo.
Após esta explicação e caracterização da instituição em causa, ainda
é necessário que tenhas clara uma condição definitiva e importante. Este grupo/instituição
é uma sociedade de HOMENS
especiais, mas HOMENS. Não é uma sociedade de SEMIDEUSES como alguns imaginam e outros
acreditam. A condição humana, por mais apertada que seja a selecção, carrega
contradições e imperfeições, e isto reflecte-se também nas acções individuais
dentro do grupo. A humildade está em reconhecer estas deficiências e procurar um
constante aperfeiçoamento capaz de superá-las para que não possam comprometer
os objetivos a que a instituição se propõe.
Agora, mais esclarecido, estás
predisposto para uma conversa mais profunda? Espero que sim, pois explicitei
por escrito até onde me é possível, a minha visão e as minhas convicções a
respeito desta instituição que integro. Deves perceber porque te faço o convite
e o quanto gostaria de contar contigo nesta instituição.
Uma
resposta declinando o convite será recebida com toda a naturalidade por
quem cultiva o total e livre arbítrio e respeita a liberdade de escolha
e decisão.
Com um abraço amigo.
(adaptado de um texto retirado da
internet, indicado como de autoria anónima)