dos sans-culotte aos sem-cabeça |
Da Maçonaria na Revolução Francesa
à Revolução Francesa na Maçonaria
Sobre a relação da Maçonaria com a Revolução Francesa são muitos os
absurdos publicados, quer em obras consideradas idóneas e de referência
historiográfica quer em múltiplos sítios na Internet. No fundo, tudo não passa
de uma
lenda que imputa aos maçons a autoria da Revolução. Lenda nascida em 1792 sob a
pena do Abade Lefranc, popularizada em 1797 pelo Abade Barruel e continuada no
século XX por Augustin Cochin entre outros, e que coloca em evidência o suposto
grande número de revolucionários maçons e a importância do simbolismo maçónico
na iconografia revolucionária. O despautério propagou-se e multiplicou-se até
aos nossos dias, encontrando eco em várias formas e suportes de informação, mesmo
entre maçons, eis alguns deles:
«A maçonaria teve influência decisiva em grandes
acontecimentos mundiais, tais como a Revolução Francesa e
a Independência dos Estados Unidos. Tem sido relevante, desde a Revolução
Francesa em diante, a participação da Maçonaria em levantes, sedições,
revoluções e guerras separatistas…»
«Em 1789 , de todos os movimentos libertários, foi
na Revolução Francesa que a Maçonaria teve uma participação mais forte, e
que resultou no massacre de milhares de pessoas e na anulação do conceito de
religião, quando a França “aboliu” a existência de Deus e entronizou em seu
lugar uma prostituta como deusa “Razão”; passando à perseguição dos religiosos
e à destruição de todos os exemplares das Escrituras Sagradas, o que resultou
num caos e nas trevas morais.»
«A história da França desde a Revolução Francesa permite uma
ilustração impressionante do que vimos ser o mot d’ordre das forças
naturalistas ou anti-sobrenaturalistas – favorecer durante algum tempo uma
Potência Protestante a fim de arruinar uma Potência Católica. Na obra maçónica
As Constituições da Maçonaria ou Ahiman Rezon, publicada pela Grande Loja da
Irlanda em 1858, consta que Frederico “O Grande” da Prússia foi iniciado em 1738
e que em 1761 pediu ao seu representante que convocasse um Grande Consistório
de Príncipes do Segredo Real em Paris, a fim de dar uma patente ao Irmão
Stephen Morin para que apresentasse aquele sistema ao mundo. Em 1762,
Frederico, Rei da Prússia, foi proclamado Grande Inspector-geral Soberano, 33º
grau, para ambos os hemisférios. Essas datas são mencionadas porque Frederico,
usou toda sua influência na Maçonaria para instigar a preparação da Revolução e
enfraquecer a França. Além disso, ele fez tudo em seu poder para separar a
França da Áustria e desfazer os efeitos benéficos causados pelo casamento de
Maria Antonieta com o futuro rei, Luís XVI, em 1770.»
Como pano de fundo para
este devaneio, a imensa tapeçaria fantástica urdida pelos assustados e intolerantes
religiosos, de que o jesuíta Barruel é apenas um de vários exemplos; ele, que
afirmou na sua obra “Mémoires pour
servir à l'histoire du Jacobinisme” [Memórias e Contributos para a
História do Jacobinismo]:
«Nesta Revolução Francesa, tudo, até nos seus crimes mais espantosos, tudo foi
previsto, meditado, constituído, resolvido, estatuído; tudo tem tido o efeito
da mais profunda perversidade, pois que tudo foi preparado, conduzido por
homens que tinham, sozinhos, o fio das conspirações há muito tempo tramadas
dentro das sociedades secretas».
E uma vez mais o
espírito demagógico do zeloso Barruel atribuía a Diderot, d’Alembert, Voltaire
e a outros maçons, a inspiração da Revolução, incluindo, entre os cúmplices,
d’Argenson, Choiseul, Malesherbes, Turgot e Necker. Nessa obra afirma ainda: «A conjuração visa, antes de tudo, destruir o
Cristianismo».
Ora, para perceber os factos e encontrar a verdade devemos começar pelo contexto histórico:
A França do Antigo Regime
era um país absolutista i. e., o rei governava com poderes absolutos
controlando a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião dos
súbditos. Não existia qualquer tipo de democracia, e os opositores eram presos
ou condenados à morte. O Terceiro Estado era formado pelos trabalhadores
urbanos, camponeses e pequena burguesia comercial, que arcavam com a quase
totalidade dos impostos que alimentavam uma nobreza ociosa e uma corte
ofuscante. A vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, o que
suscitava um crescente mal-estar e o ardente desejo de melhorias. A pequena burguesia,
mesmo tendo uma condição social melhor, desejava uma maior participação
política e mais liberdade económica, a exemplo do que acontecia na
Inglaterra.
Para além de alguns
aspectos estruturais, já referidos, analisemos com mais detalhe os aspectos
conjunturais. Na
década de 1780, a
produção agrícola, base da economia francesa, ressentiu-se das severas
condições climáticas, materializadas em más colheitas, com consequente aumento
dos preços dos alimentos e ocorrência de fome e miséria para grande parte da
população. Registou-se
também uma crise na produção manufactureira resultante de um mau acordo com a
Inglaterra, em que a França aceitou baixar os impostos sobre os produtos
ingleses em troca de semelhante redução dos impostos sobre o vinho francês no
mercado inglês; daí resultando muitas falências e aumento do desemprego. Outro
factor considerável para o profundo descontentamento popular reside na crise
política que atingiu a monarquia francesa, principalmente ligada ao aumento dos
gastos da corte e ao custo das guerras em que a França se envolveu.
Perante este cenário o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais para tentar resolver os problemas. Na abertura dos trabalhos da
Assembleia, em Maio de 1789, o rei insistiu no voto por estados e que a
Assembleia tratasse apenas das questões do deficit financeiro da monarquia e
das medidas para combatê-lo. Face à insistência dos representantes do povo e da
pequena burguesia – o Terceiro Estado –, na questão do voto individual, o rei
decidiu abruptamente encerrar os trabalhos da Assembleia. Os deputados do Terceiro
Estado saíram de Versalhes e dirigiram-se a Paris com a intenção de formar uma
Assembleia Nacional e redigir uma constituição para a França. Luís XVI receando
perder o domínio dos acontecimentos instou os demais estados (nobreza e clero)
a participarem nessa nova assembleia. Porém, numa manifestação de força e de
afirmação do poder real enviou tropas com o intuito de dispersar as
manifestações populares que se verificavam em Paris. E este terá sido o
rastilho que incendiou a população revoltada, que em 14 de Julho de 1789
invadiu a Bastilha, a prisão dos inimigos da monarquia e símbolo maior da
repressão.
Analisemos, agora, o que foi a Revolução:
Não houve apenas uma mas quatro revoluções, entre 1789 e 1799; e
cada uma delas consumiu a sua antecessora. A primeira revolução teve claramente
um cunho aristocrático e constitucional, por um lado partidária do Duque
D’Órleans (Grão-Mestre do GOF), por outro defensora de um sistema de monarquia
constitucional com Luís XVI, segundo o modelo inglês, ou, preservando a
monarquia, mas seguindo os passos do constitucionalismo liberal americano. A
primeira Assembleia Constituinte saída da revolução integrava cerca de 200
maçons, num total de cerca de 1177 deputados - e por aqui se vê qual a
expressão maçónica nesta importante instituição da Revolução. A segunda
revolução, girondina, foi burguesa, defensora dos direitos da propriedade,
monárquica e constitucionalista. Dos deputados da Assembleia girondina supõe-se
que pouco mais de 200 fossem maçons, num total de 745. Vários chefes girondinos
eram maçons, como Brissot, presumivelmente membro da loja Les Neuf
Soeurs (As nove Irmãs), de
que também fariam parte Danton e Desmoulins, os algozes de Brissot e do
directório girondino, que os conduziram ao cadafalso. A terceira revolução,
jacobina, também contou com maçons nas suas fileiras, homens como
Georges-Jacques Danton e Maximilien Robespierre; ainda que este último não
fosse muito devoto à Ordem sabe-se que frequentara na juventude a loja Hesdin.
Mas nada disto, desta condição de fraternidade que une os maçons, fez com que
se verificasse qualquer harmonia entre eles, até porque Hébert, Desmoulins e
Danton, foram guilhotinados a mando de Robespierre. E na quarta Revolução,
thermidoriana, coube a vez aos maçons Robespierre e Couthon, entre outros, de
perderem a cabeça na guilhotina, de novo às mãos de revolucionários que também
integravam alguns maçons como Collot d’Herbois e Barras, p. ex. Por conseguinte:
«(…) não se vislumbra possível um complot
maçónico que traçasse um plano tão caótico quanto o foi a sucessão de
acontecimentos da Revolução Francesa, nem se imagina que os homens que
eventualmente tivessem delineado semelhante tragédia quisessem ser suas vítimas
pela sua própria morte e pela morte de muitos dos seus amigos.»
In RUI A.
“MAÇONARIA E REVOLUÇÃO”
http://revolucaoemfranca.blogspot.pt/2011/06/maconaria-e-revolucao.html
Analisemos agora a origem desta tese que faz da Revolução uma
produção maçónica. Ela é praticamente contemporânea dos primeiros
acontecimentos revolucionários, e é devida ao Abade Lefranc que em 1792
publicou um livro intitulado “Conjuration contre la religion catholique
et les souverains, dont le projet conçut en France doit s’exécuter dans
l’Univers entier”, [Conspiração Contra a Religião Católica e os Soberanos,
Cujo Projecto Concebido em França Deve Ser Executado em Todo o Mundo], onde
atribui à Maçonaria a autoria da Revolução. Lefranc, executado nesse mesmo ano
juntamente com quase duas centenas de outros clérigos, deixou a semente que
iria ser largamente divulgada em toda a literatura anti-maçónica e
anti-revolucionária, destacando-se nessa literatura o célebre livro [Memórias e
Contributos para a História do Jacobinismo] do abade Barruel publicado em
1798. E foram principalmente estas obras que instituíram essa ideia da
existência de uma conspiração tecida fora da França e que a toma de assalto
visando o derrube das monarquias europeias; assim foi identificada a
Franco-Maçonaria francesa, enquanto braço armado de uma sinistra Ordem dos
Iluminados da Baviera.
É evidente que a Maçonaria não terá sido um elemento
absolutamente neutro no curso dos acontecimentos, mas isso não faz dela agente
destacado da Revolução. Constatemos os factos:
1 - A Maçonaria tinha, muito antes dos primeiros actos
revolucionários, uma penetração efectiva na sociedade francesa, já que as
primeiras lojas surgiram logo após 1717, ano da fundação da Grande Loja de
Londres.
2 - Em 1735 eram inúmeras as lojas de origem inglesa e escocesa
em França, ao ponto de ter sido proclamado um Grão-Mestre para este país (em Junho
de 1738). Aí foi instituído o cargo de Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons
do Reino de França, e nele investido o Duque d’Antin, substituído depois da sua
morte pelo Conde de Clermont, ao qual sucede, em 1772, o Duque d’Orléans, como
Sereníssimo Grão-Mestre do então designado Grande Oriente de França.
3- Antes do começo da Revolução e até à fuga da aristocracia, a
Maçonaria francesa era composta eminentemente pela aristocracia e pela alta
burguesia, à qual se juntava um número considerável de padres católicos. A
Maçonaria francesa não era, portanto, um redil de conjurados anti-monárquicos
movidos pelo objectivo de destruir a nobreza e o clero e implantar uma república.
4 – Acerca do republicanismo dos primeiros revolucionários
franceses, recorde-se que Desmoulins disse, pouco antes de morrer, que em 1789,
na Tomada da Bastilha, os republicanos não seriam, em França, mais do que meia
dúzia. A reforçar esta ausência de espírito republicano, sublinhe-se que o
próprio Robespierre só se confessa republicano pouco antes da queda do Rei. Ou
seja, o republicanismo de 1792 a 1794 não existia ainda no espírito dos
revolucionários de 1789, menos ainda dos maçons dessa altura.
Agora já podemos compreender que a Maçonaria era, nesses tempos
primevos da Revolução, uma instituição de convergência entre a aristocracia, a
alta burguesia e o clero, na qual fervilhavam certamente ideias do iluminismo, mas não era uma organização que conspirava para derrubar
o poder político e as ordens sociais em vigor que tantos dos seus membros
integravam.
«Parece hoje inquestionável que, apoiado por
homens como Mirebeau e De Laclos e, até - há quem o sustente - pelo próprio
Danton, o Duque d’Orléans conspirou contra o rei seu primo e gastou nessa
actuação uma verdadeira fortuna, ele que era o segundo maior proprietário do
reino, imediatamente a seguir a Luís XVI. Estas eram, pelo menos, as suspeitas
de Luís XVI (…) embora hoje se acredite que a sua participação no fomento do
fervor revolucionário não teve a dimensão (…) que alguma historiografia lhe
concedeu. É certo que ele foi Grão-Mestre do GOF, mas parece também que a sua
proximidade à Maçonaria era mais honorífica e formal do que material. O
verdadeiro administrador-geral do GOF foi, por esses tempos e até 1789, quando
emigrou para Inglaterra na sequência dos primeiros acontecimentos
revolucionários (e, nesse mesmo ano, para Lisboa, onde veio a morrer), o émigré
Sigismond de Montemorency-Luxembourg, adversário declarado do Duque d´Orléans e
fiel partidário da Monarquia (na melhor das hipóteses, Constitucional...), que
queria ver protagonizada por Luís XVI e não pelo seu duvidoso primo.»
In RUI A. (obra citada)
Após a queda da monarquia a 10 de Agosto de 1792, o Duque D’Orleáns
tornou-se uma figura patética, mormente como Citoyen Égalité. Caído em desgraça foi preso em Abril de 1793,
durante o regime do Primeiro Terror e, e em desespero, tentou desmarcar-se do
seu passado maçónico – o que demonstra bem a falta de consideração que a jovem
República tinha pela Maçonaria –, publicando uma vergonhosa carta de contrição
onde pedia desculpa por ter sido maçom; que não lhe
serviu de nada pois a guilhotina decepou-lhe a cabeça em 6 de Novembro de 1793.
E assim se conclui que os acontecimentos até 1789 ultrapassam qualquer
conspiração da Maçonaria, ou de maçons, que pudesse ter sido traçada em prol
das pretensões do Duque d’Orléans, a figura apresentada como a mais proeminente
dessa maçonaria, pretensamente, mãe da Revolução.
Afigurando-se, agora, evidente que a Maçonaria não planificou a
Revolução Francesa, porque tal era manifestamente impossível pela natureza da
sua formação, bem como devido à extensa variedade dos interesses e das
sensibilidades que integraram aquela acção revolucionária, resta a hipótese da
maçonaria ter influenciado os amotinados através da divulgação das ideias revolucionárias.
Porém, se parece certo que Diderot, Rousseau e o próprio Condorcet foram
maçons, e se as lojas terão servido para fomentar a aproximação social e política entre a
nobreza dominante e a burguesia emergente, a realidade mostra que esses elementos
característicos de uma parte da Maçonaria actual não a influenciavam nesse
tempo e foram adquiridos posteriormente.
E assim é, pois no começo da Revolução a maçonaria francesa era
monárquica, uma vez que grande parte dos revolucionários admitia os valores
do Ancien Régime, embora já existisse no seu seio um componente
importante que perfilhava um reformismo constitucional - influência dos Estados
Unidos que Lafayette trouxera e fizera imprimir em 1789 no texto da Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual evoca os valores da liberdade e
da igualdade, do primado da lei, do direito da propriedade, da necessidade de
contenção do poder soberano, da Constituição, da separação de poderes do
Estado, etc. ideais provenientes mais do iluminismo inglês e escocês, do que do
iluminismo francês:
«Por outro lado, os valores que mais tarde
marcariam parte da Maçonaria francesa, como o anti-clericalismo e o jacobinismo
republicano, não podem atribuir-se ao pensamento maçónico do tempo da
Revolução. Voltaire, o grande filósofo anti-clerical, seria feito maçom a 7 de
Março de 1778, menos de três meses antes de morrer. Voltaire, toda a vida
anti-clerical e anti-católico, terá querido morrer católico (segundo o número
de Abril de 1778 da revista francesa Correspondence Littéraire Philosophique et Critique, onde está
publicada uma declaração do filósofo anunciando a sua conversão e a sua
confissão a um padre católico, o Padre Gautier), pelo que não terá procurado a
Maçonaria para a tentar influenciar com um anti-clericalismo que já não
possuía, como alguns autores defendem, obviamente sem qualquer sustentação.»
In RUI A. (obra citada)
E
para ajudar à perpetuação da lenda mirabolante, um pouco por toda a parte,
maçons desavisados proclamam que a Revolução Francesa foi feita pela Maçonaria,
inspirada na sua divisa LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE. Ora, repare-se que
essa divisa foi adoptada pela IIª República em 1848, e só no ano seguinte pelo Grand Orient de France. Mas é evidente
que esta partilha da mesma divisa também ajudou a alimentar a lenda que coloca
os maçons como arquitectos da Revolução, lenda reforçada pelas obras publicadas
no início do século XX, como a de Gustave Bord, La Franc-maçonnerie en France, que repete as teses fantasiosas da
conjura maçónica veiculadas pelo seu grande arauto, o abade Barruel. Acresce,
ainda, que no que toca ao plano religioso o ateísmo
que alguma Maçonaria proclama hoje era inequivocamente rejeitado pelos maçons
de então. Mesmo Robespierre tinha profundas convicções religiosas – tendo, até,
atacado os herbertistas pelo facto destes se declararem ateus. Todos estes
factos demonstram que a Revolução Francesa não foi urdida pela maçonaria.
Mas, então, a Maçonaria não possuía um ideal republicano?
Certamente que não, pois quando a República se implantou a
maçonaria praticamente desapareceu e tal facto é compreensível já que a Ordem
era defensora da Monarquia Constitucional e avessa a rupturas com os princípios
da primeira Revolução. Aliás,
Nicola Aslan no seu livro “História da Maçonaria”, assegura que no dia 17 de
Julho de 1789, «numa recepção feita a Luis XVI, depois da tomada da Bastilha,
os maçons, que lá estavam em grande número, fizeram a abóbada de aço sob a qual
o rei, espantado e amedrontado, passou». Esse gesto, de respeito e apoio
maçónico ao rei, desmente o jesuíta Barruel e reforça a convicção de que não
foram os maçons que fizeram a Revolução e, muito menos, pretenderam destruir o
Cristianismo.
Em
Conclusão: A Revolução Francesa foi um marco importante na história da
civilização. Proporcionou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da
nobreza e granjeou autonomia e direitos sociais para o povo. A vida dos
trabalhadores, em geral, melhorou significativamente. Por outro lado, permitiu
à burguesia o acesso à condução da sociedade garantindo o seu domínio político
e social. Deve-se à Revolução Francesa o estabelecimento das bases da sociedade
burguesa e capitalista, e também influenciou, com os seus ideais iluministas, a
independência de muitos outros países, nomeadamente do continente americano, e
alguma abertura de espírito nas sociedades europeias mais tradicionais e
conservadoras.
Daqui
se conclui, sem margem para dúvidas, que não é possível estabelecer com plena
exactidão em que medida – quantidade, frequência e intensidade -, os maçons
participaram na Revolução Francesa, embora seja inequívoco que dela fizeram
parte, pois assim o testemunham inúmeros factos históricos, alguns dos quais
referidos neste sintético trabalho. Porém, a Ordem Maçónica não passou de um protagonista,
menor e silencioso, dessa revolução que mudou o Mundo, não obstante ter sido repetidamente maltratada por ela, ainda que a tenha
influenciado em vários momentos através das ideias; ideias que, de resto, não
eram originariamente suas, nem sequer partilhadas por todos os maçons.
Por isso, podemos afirmar que o contributo da Maçonaria na
Revolução Francesa aconteceu a nível individual, e de modo nenhum como resultado
de um plano previamente gizado. E também podemos dizer que uma parte importante
da Maçonaria que hoje conhecemos foi influenciada pelos valores saídos da
revolução, valores como a laicidade, o republicanismo e o igualitarismo. Ou
seja, não foi a Maçonaria que mudou a França e o Mundo através de uma
revolução, mas sim a Revolução Francesa que influenciou a Maçonaria, levando-a
a ir mais longe nos seus ideais, já que materializou velhas aspirações
libertárias e abriu caminho para trilhar novos percursos humanistas.
2015-03-28
H., M:. M:.
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