"A televisão é o espelho que reflecte a derrota de todo o nosso sistema cultural" Buresh
2018/04/14
2018/01/31
"As pessoas gostam de andar à caça do maçom"
SERÕES INQUIETOS - Nono Capítulo
Nos 20 anos da maçonaria feminina portuguesa e dos 300 anos da
maçonaria global, o "Serões Inquietos" sentou à mesa alguns
protagonistas. Discutiu-se símbolos, recrutamento e o papel das mulheres.
Estamos no ano 6017. A vida é a mesma. O café sabe ao mesmo, o metro
tem os seus atrasos, Lisboa continua poliglota, os taxistas continuam com o
nariz torcido por causa da concorrência 2.0 e as margaritas numa certa casa
mexicana continuam salgadas e robustas. A contagem dos maçons segue quatro mil
anos à frente dos profanos, mas os seus mundos misturam-se, indiferentes. No
programa "Serões Inquietos", a TSF sentou numa mesa do Lisboa Story
Center vários protagonistas da maçonaria portuguesa, para conhecer este outro
mundo (secreto ou discreto?).
O tom e a postura não eram demasiado
sérios. Fernando Alves e Pedro Pinheiro vestiram a camisola do português comum,
picando aqui e ali com um alfinete invisível, para tentarem despir a dúvida
obscura que tanto apoquenta aqueles que associam a maçonaria a poderes ocultos.
Ou à eventual desenvoltura para a escada rolante social.
A conversa começou na origem da Maçonaria
(Inglaterra, no século XVIII) e passou imediatamente para Carlos Mardel, o
húngaro que, conta o historiador e vice-grão mestre do Grande Oriente Lusitano
António Ventura, se transformou no primeiro maçom português naturalizado.
Mardel, que até tem uma rua em Lisboa, foi quem desenhou a Baixa Pombalina.
Tirou-se o pó a essas formalidades e rapidamente se chegou a Mário Soares, o
ex-presidente da República. Era maçom. Começaram as sobrancelhas a
contorcerem-se.
"Mário Soares não era um maçom
ativo", diz Ventura. "[Uma reunião com Mário Soares] terá sido uma
sessão branca, onde se aceita profanos. Quem é iniciado, é [maçom] até à morte,
mesmo que se torne num maçom venenoso."Foi o caso de Mário Soares,
portanto? "Não, não. Foi um ex-maçom displicente."
Bola para a frente. Há ou não há
arquitetura maçónica em Lisboa? O recém-reeleito grão-mestre do Grande Oriente
Lusitano sorriu e disse "sorriso". É que antes de esta sessão começar
contou a história de um amigo que não dominava a arte dos emojis no telefone.
"Então ele escreveu 'sorriso'. Ouviram-se gargalhadas. Lima diz que a
"maçonaria é uma ordem simbólica. No século XXI podemos olhar para muitos
aspetos e, como maçons, vermos símbolos dos quais se dizem muita coisa".
"Carlos Mardel diria que temos uma
imaginação delirante, ficaria de boca aberta, estarrecido, com o que vemos na
baixa", agarra a narrativa António Ventura. "É fantástico. O traçado
do Terreiro do Paço, da baixa lisboeta, tem a ver com a Europa do seu tempo,
com a Europa iluminista. Quem quer ver outra coisa, pode ver." Isabel
Corker e Fernando Lima preferem admitir que sim, que há símbolos.
Odete Isabel, ex-grã mestre da Grande Loja
Feminina de Portugal, entende o encanto. "Para nós que sabemos a
simbologia, encantamo-nos naturalmente. Estamos a fazer o nosso próprio
romancear quando olhamos para os objetos que nos encantam."
Isabel Corker, que um dia decidiu ser
maçona e foi lá bater à porta, para obter uma entrevista e ganhar o direito a
entrar naquelas portas simbólicas, diz que tudo é dual. "É tudo e o seu
contrário. O próprio significado da serpente [na estátua do Rei D.José I, no
Terreiro do Paço] é dual. A serpente ascendente, como na Farmácia, é
conhecimento positivo. A rastejante, como na estátua, é conhecimento negativo.
Creio que é a intenção do autor", desvaloriza, deixando cair a tese de que
as serpentes ali estão como símbolo maçónico, representando a sabedoria e a
cura.
A história da estátua é boa. "O molde
em gesso encontra-se ali há mais de 250 anos", conta Paula Oliveira,
diretora executiva da Associação de Turismo de Lisboa. "Foi a primeira estátua
equestre e de uma pessoa viva. Demorou quatro dias a chegar ao Terreiro do
Paço, carregada apenas por homens. O rei não queria que fosse transportada por
animais."
Uma coisa que intriga esta gente são os
passeios turísticos por este mundo desconhecido para tantos. Mery Ruah,
ex-grã-mestre da Grande Loja Feminina de Portugal, indigna-se. "Se fizerem
uma descrição muito simples, ganham o dia. É um aproveitamento!" Isabel
Corker não acredita que um maçom entrasse nesse "folclore". Odete
Isabel, outra antiga grã-mestre da Grande Loja Feminina de Portugal, atira:
"são uns chico-espertos!"
Reconhecem que está tudo na Internet, que
não há muitos segredos. "Está tudo escrito na Internet, mas continua a ter
um lado de segredo. Há o que não se pode verbalizar, porque passa por uma
vivência interior. É a passagem interior", explica Corker. "A maçonaria
nem sequer é uma sociedade discreta. As pessoas gostam de andar à caça do
maçom. A maçonaria serve de bode expiatório para muita coisa", desabafa
Lima.
Maçonaria de segunda
Há mais de 100 anos, as mulheres, tal como
na sociedade, eram cidadãos de segunda na maçonaria. Nesta mesa retangular
estavam de acordo. "Era uma maçonaria de segunda. Havia lojas de adoção,
que estavam sob proteção da lógica masculina", explica Ventura.
Odete Isabel ajuda: "A história da
maçonaria feminina é a história da mulher comum. A história ocidental viu
sempre a mulher como um ser da natureza. Havia para quem nem inteligência
tinham. A própria maçonaria expressava num artigo que proibia expressamente as
mulheres, os imorais..." - E os coxos! E os coxos!, diz Fernando
Lima, com um sorriso rasgado.
Odete Isabel responsabiliza as religiões
pelo atraso na emancipação da mulher. "O Cristianismo, o que veio fazer?
Criar uma virtude feminina quando estabelece o pecado. Tudo o que é relacionado
com a natureza sexual vai para onde? Matrimónio e procriação. Automaticamente
cria condições para que as mulheres sejam dependentes, subjugadas, por pais,
maridos, irmãos e até filhos adultos."
Durante duas horas discutiu-se a
maçonaria, os preconceitos contra a mesma, o papel da mulher, a origem e os
símbolos. Já foi perto do fim que o famoso avental surgiu na conversa.
"Significa trabalho", diz Isabel Corker, qual Lucky Luke com a
resposta na ponta da língua.
"Os ferreiros usavam avental, os
pedreiros, os sapateiros... O meu avô usava. Até para se proteger", lembra
Ventura. "[O símbolo] remete para o trabalho intelectual, interior. É
símbolo de trabalho."
"Até
pela Internet"
O tom subia ligeiramente quando se usava o
tal alfinete invisível para mencionar supostas influências no poder político. "A
maçonaria não tem programa", diz taxativamente o historiador. "É agir
sobre nós próprios para influenciar a nós próprios. Não deve ter programa. Já
teve. Quem diz que há uma hierarquia para respeitar, é absurdo. Criou-se o
cliché de que a maçonaria manipulou a Primeira República", censura,
lembrando ainda a suposta candidatura maçom de Fernando Nobre à presidência. A
maçonaria não faz balançar uma eleição, diz.
Quanto ao recrutamento, falamos de
entrevistas, como se de um trabalho se tratasse. O caráter é a chave. "A
maçonaria é uma instituição simbólica, filantrópica, filosófica. Leva ao
aperfeiçoamento de cada qual, para atuar da melhor maneira na sociedade",
coloca os pontos nos "is" Fernando Lima. "Nem todos são puros,
como em todas as instituições humanas. Devem-se recrutar homens bons e livres.
Através de um conjunto de perguntas, inquéritos e conversas tenta fazer-se uma
avaliação. Normalmente é sugerido por um irmão ou irmã."
Mery Ruah diz que até pela Internet dá
para tentar entrar na maçonaria. Isabel Corker, a mais jovem grã-mestre em
atividade, conta a sua história: "fui eu que fui à maçonaria. Telefonei,
marquei entrevista. Na altura não havia internet, foi há muitos anos. À hora
marcada, estava lá a bater à porta". Quanto ao recrutamento é simples:
"Não fazemos juízos de valor, mas avaliamos caráter. O caráter não se
muda".
E vai mais longe: "Se enquanto maçons
soubéssemos avaliar bem as pessoas, não cometeríamos erros. A maçonaria é como
o resto da sociedade: há sempre bom e mau. Há maçons que são capazes de grandes
rasgos de inteligência e outros capazes dos maiores enganos".
E é isto. Estamos em 6017, mas toca a
voltar a 2017. Está tudo igual, senhoras e senhores. O café sabe ao mesmo, o
metro tem os seus atrasos, Lisboa continua poliglota, os taxistas continuam com
o nariz torcido por causa da concorrência 2.0 e as margaritas numa certa casa
mexicana continuam salgadas e robustas.
https://www.tsf.pt/sociedade/interior/as-pessoas-gostam-de-andar-a-caca-do-macom-8616566.html
2018/01/17
e então o V:. M:. disse ao neófito
«É amplamente conhecida a fraternidade que une os maçons. E também é conhecida a fidelidade dos membros da maçonaria aos seus regulamentos. Porém, os nossos estatutos incluem um artigo que prevê a estrita observância das leis vigentes do estado de direito onde a maçonaria opera, e esse artigo prevalece sobre todas as outras normas, regulamentares ou morais.
A maçonaria recorre à simbologia para transmitir muitos dos seus valores e conhecimentos, e um templo maçónico é um local de trabalho repleto de símbolos, no entanto irá verificar que o símbolo mais importante que existe num templo maçónico é a bandeira nacional. O significado desse símbolo dispensa qualquer interpretação pois que une, de um modo irredutível, os que aqui se reúnem àqueles que aqui não entram, numa inequívoca interpretação da afirmação: “A Maçonaria é uma instituição comprometida com o Mundo, com o País e com a Comunidade, e pugna pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre todos os indivíduos”.
Aqui, não se conspira contra o Estado de Direito, não se urdem interesses pessoais ou corporativos contras as suas instituições, a sua economia, a sua cultura e o seu progresso, ou mesmo contra terceiros. E é obrigação de todo o maçom pugnar para que sempre assim seja.
Tenha isto em conta Sr……X….., para seu descanso acerca do passo que está a dar, e como orientação de vida que certamente não lhe será prática desconhecida, mas que entendemos importante sublinhar.»
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