«... Primeiro foi a espera, deixado sozinho numa pequena sala, com a sugestão de reflectir sobre a minha opção de entrar num mundo novo que me deveria aportar uma nova realidade, um modo diferente de estar e de ser. A preocupação que mais me assaltou, então, não incidia sobre essa opção, em si, mas sobre as qualidades que ela requeria: homem de bons costumes é algo difícil de definir neste tempo falho de valores em que as virtudes se misturam com atributos mundanos, e em que os referenciais desses valores herdados se mostram, muitas vezes, embotados ao discernimento. Vivemos num mundo repleto de ruídos ensurdecedores, em que não ouvimos os outros e, por vezes, nem a nós próprios. Ora, integrado neste mundo de probidade em convulsão, seria eu, ainda, um homem de bons costumes? Mas a resposta não poderia ser outra: Se o sou, estou no local certo para iniciar a caminhada, e se o não sou também estarei no lugar certo, pois pelo que anuncia a maçonaria, encontrarei nela a orientação para encetar uma caminhada rumo à justeza e à verdade. A busca da Luz.
(...)
Neste espaço obscuro, perante advertências e objectos singulares que convidam à meditação sobre nós próprios e a vida e, portanto, suscitam um olhar introspectivo sobre a minha existência, lembrei-me de um livro que narra as reflexões de doentes terminais, pessoas que, à beira do fim, manifestam frequentemente um profundo arrependimento por não terem tido a coragem de viver de acordo com as suas convicções mas segundo aquilo que acharam ser as expectativas dos outros; de não terem criado e alimentado fortes laços de amizade e fraternidade com os seus semelhantes, até mesmo com os seus familiares, rendendo-se a uma vida alucinante que impede a entrega e a partilha; e de não terem expressado mais vezes os seus verdadeiros sentimentos, tendo, ao invés, adoptado atitudes que visaram tão-somente viver em paz com os outros, afinal uma paz hipócrita, uma vida de falsidade.»
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