O
Marquês e os Jesuítas
Passou
há pouco tempo na RTP Memória a série “O Processo dos Távoras”, em que o
ministro de D. José, Sebastião de Carvalho e Melo (Conde de Oeiras e futuro
Marquês de Pombal), é apresentado como um político injusto, um funcionário
prepotente animado de sanha persecutória contra nobres e religiosos. E a série
retrata a sua actuação contra os opositores, nomeadamente contra aqueles
que são apresentados como os seus maiores adversários: A ordem jesuíta.
Ora,
para além da nobreza caduca, refém do seu atavismo secular e da estagnação que
representa, os jesuítas constituem o outro pólo desse imobilismo que resiste às
reformas encetadas por Pombal na implementação de um singular modelo político
de Despotismo Esclarecido que constituiu o seu consulado.
Sobre
os jesuítas convém relembrar que embora esses homens cultos tenham desempenhado
um papel importante na difusão da cultura e da ciência (no início do século
XVII acompanharam alguns dos progressos astronómicos de Galileu e chegaram a apoiar
e complementar as suas descobertas), em meados do século XVIII recuaram a uma
cultura do passado distante, opondo-se às extraordinárias descobertas da última
centúria. Tanto assim foi que, em 1746, o padre jesuíta José Veloso, reitor em
Coimbra, proibiu o estudo de Descartes, Gassendi e Newton, entre outros, assim
como «quaisquer conclusõis oppostas ao
sistema de Aristoteles».
A
Companhia de Jesus tinha passado à posição de obstrução do progresso científico
mas a sociedade tinha-se transformado radicalmente, e o conflito explodiu em
1759, com a expulsão dos jesuítas de todo o território português.
Independentemente
de outras razões, mais triviais, moverem o 1º Ministro de D. José – interesses
comerciais familiares no Brasil, eventualmente causticados pelos jesuítas-, o
facto é que Sebastião de Carvalho e Melo, talvez doutrinado na dinâmica e na
política inglesa, que admirava, protagonizou o corte com a inércia da
fidalguia que não preconizava nem deixava florescer progressos idênticos ao que
outras nações registavam.
Os
jesuítas nunca foram esses destacados portadores dos ideais
humanistas, que alguns lhes atribuem. Uma abordagem antropológica à missionação
jesuíta no Brasil também é, disso, estudo bem revelador.
Com todos os erros que terá cometido no desempenho das suas funções, acrescentados pelas suas fraquezas e defeitos como pessoa, ainda assim Pombal reunirá um crédito de protagonismo benéfico para o Portugal dessa época, que os feitos da Companhia de Jesus e da nobreza coeva não terão logrado, sequer, imitar.
H.
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